Porto, Cidade Invicta, capital do Norte, gente com
personalidade muito vincada.
Cidade que teve este domingo a sua 10º edição da Maratona.
Esta prova tem-se vindo a afirmar no calendário das
maratonas europeias, atraindo sobretudo muitos “hermanos” de Espanha e de
França.
Pode-se dizer que o Porto tem um encanto muito especial,
diferente de Lisboa por exemplo. É uma opinião pessoal, bem entendido. Acho que
a paisagem do Porto tem um ar mais familiar e acolhedor, com um toque antigo,
uma envolvência de vistas entalhadas no rio Douro, algo que nos faz sentir em
casa…, por assim dizer…
Confesso que conheço muito mal o Porto, apesar de ser
natural do distrito de Aveiro, a vida trouxe-me sempre mais para sul. Com
excepção de uma passagem de quatro anos pela Covilhã, fui passando por Coimbra,
Figueira da Foz, Lisboa e agora Leiria!
Talvez fosse, era
melhor, comprar uma tenda de campismo J
Apesar de tudo, desde que comecei a ter preferências
clubísticas, foi mais com o Porto que simpatizei, nunca sendo todavia muito atento
ao fenómeno do futebol…
Bom, retomando o assunto principal da maratona, pode-se
dizer que não fiz uma preparação muito planeada. Ando nisto das corridas há
muito pouco tempo e, não me apetece encarar o assunto como uma responsabilidade
ou até como um assunto sério. A corrida veio como que ocupar o lugar da bicicleta de
há três anos para cá. Não porque goste mais de correr do que de pedalar, mas
porque tem uma logística muito mais simples, porque é uma moda que anda no ar,
porque dá um prazer mais imediato, ???, ou se calhar por nada disto! Não sei.
Sei, isso sim, é que gosto de correr…(bem que podia
aprender, eh eh..)
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Porto, visto de Gaia (Foto de arquivo) |
A Operação “10ª Maratona do Porto” começou no sábado com a
deslocação ao Porto para levantar os dorsais.
Havia a intenção de ir a tempo da Pasta Party, mas por motivos familiares não pude sair da Figueira
da Foz antes das 16h00. Depois fui encontrar-me com o “atleta” Paulo Amaro na
portagem da Mealhada para então seguirmos para o Porto. Conclusão, chegámos ao
edifício da Alfandega, a base de operações da maratona, cerca das 18h00, tarde
demais portanto, para a Pasta…
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O atleta Paulo Amaro à entrada da Expo Maratona (Tempo: 3h14m54s ) |
Uma nota para o estado horrível do tempo neste sábado. Já estávamos
a pôr as barbas de molho para a
eventualidade de ter de correr a maratona debaixo de chuva e vento. Estranhava-se
também que as previsões apontassem bom tempo para domingo e, regresso à chuva na
segunda! Era bom demais!
No secretariado o atendimento foi excelente. Se tínhamos dúvidas
relativamente aos aspectos logísticos da prova, as explicações não podiam ter
sido melhores. Em cima de um mapa de bolso foi explicado e desenhado todo o
percurso da prova, pontos-chave para a orientação dos atletas, etc.
Por termos falhado a Pasta
Party, resolvemos ir ao “Nuorte
Shopping” ver as ementas, e optámos por um Wok to Walk (não havia Wok to
Run… J)
O Grande Dia começou às cinco da manhã. Às
cinco e meia estávamos a sair de Anadia rumo ao Porto. Como não conhecemos bem o Porto,
mandava o bom senso ir com tempo para
procurar um local para estacionar, tomar café, apanharmos os autocarros que nos
levariam até ao local da partida, etc.
Chegámos de facto bem cedo à zona do pavilhão Rosa Mota,
onde seria a Partida.
O tempo estava excelente, céu limpo e temperatura relativamente fresca.
Com o aproximar da hora da partida, a multidão começou a aumentar,
confirmando-se a excelente adesão que teve este evento. Recordo que não se
tratava apenas da Maratona; havia também a Family
Race, uma corrida de 16 km.
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Início da corrida |
Finalmente chegam as 9h00 e dá-se a partida. Só me apercebi quando
a multidão à minha frente começou a mexer. Estava junto a uma coluna de som que
debitava Decibéis como se não houvesse amanhã! Passei os últimos 10 minutos
antes da partida com os dedos nos ouvidos!
Finalmente, íamos à conquista da “Inbicta”!
Uma primeira subida até à Rotunda da Boavista, o espaço
entre atletas descomprimindo progressivamente, permitindo começar a entrar no
ritmo normal de corrida.
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Percurso da Maratona |
E depois, ..a imensa Avenida da Boavista!
Vários quilómetros a descer até ao Castelo do Queijo.
Bom, na zona do Estádio do Bessa inflectimos à direita,
dando uma volta a um quarteirão, retornando à Avenida passado pouco.
Confesso que conheço tão mal o Porto que posso afirmar sem
grande margem de erro que, nunca tinha passado a pé por nenhum ponto do
percurso da Maratona. Já teria porventura passado de carro em alguns desses
locais…
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Paulo Amaro, 1º classificado do "PelaEstradaFora" (Tempo: 3h14m54s ) |
Chegados ao Castelo do Queijo viramos à direita em direcção
a Matosinhos. O ritmo é forte, a temperatura está fresca, o dia soalheiro,
corre-se sem esforço de maior.
Tenho no entanto a consciência de que esta facilidade não
vai durar sempre.
Chegamos ao primeiro retorno, no Porto de Leixões.
No regresso vejo que levo mais de um quilómetro de avanço relativamente
ao “Balão” das 3h15! Bem bom! Mas sei que, mais tarde ou mais cedo, vou ter de
abrandar…
Voltamos a passar na rotunda da Anémona (acho que é assim
que se chama..) em direcção à Foz do Douro.
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No regresso de Matosinhos |
À passagem da uma hora, “mando-lhe" com o primeiro gel.
Levava um Stock considerável de comida. Dois Géis de
fruta, dois géis com cafeína, um cubo de marmelada, tudo da Decathlon, uma barra
de cereais vulgar e uma mão cheia de rebuçados de menta. Parecia eu que ia para
um piquenique…
Entramos na margem norte do Douro. A paisagem é
deslumbrante! Não tinha noção da beleza desta zona do Porto!
Vai-se avançando em direcção às pontes. O ritmo continua
entre os 4m20 e os 4m30/km. Não há sinais de quebra ou de cansaço. Há que
aproveitar enquanto dá! Sei que o final será penoso de qualquer modo, portanto não
vale a pena ir-me a poupar…
Ribeira, passamos pelo mercado de rua, mas ninguém pára para comprar
nada…
O próximo destino é Gaia, que alcançamos pela Ponte D. Luís.
Daí seguimos pela margem sul do rio até à Afurada, onde será o segundo retorno.
Curioso, ou não, fui o tempo todo com temas do Rui Veloso no
pensamento! Muitos dos locais por onde íamos passando já os conhecia das
canções! Tinha oportunidade agora de saber exactamente onde ficavam!
Após o retorno da Afurada, reconheci vários atletas que iam
ainda em sentido contrário . Muitos deles, figuras conhecidas dos Trails, todos reconhecidamente
melhores do que eu!
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Passagem na zona ribeirinha de Gaia |
Uma vez mais, tenho a clara noção de que ia acima de um
ritmo sensato… Que se dane! Se surgir o Muro, salto por cima…não posso é
terminar a pensar que podia ter feito melhor…
Novamente a Ponte D. Luís. Após atravessar a ponte vira-se à
direita, direcção nascente, onde havia o terceiro retorno.
Foi mais ou menos por esta zona, aos 30 km de prova, que comecei
a ter os primeiros avisos do corpo. Se fosse um automóvel, tinha-me acendido
uma luz no painel de instrumentos!
Começo finalmente a reduzir para os 5 min/km.
Aos 33 km(+/-) dá-me a primeira cãibra na parte anterior da
coxa. Uma paragem para esticar um pouco,.. passa, …retomo a corrida devagarinho.
Sou ultrapassado pelo “Balão” das 3h15.
Tento controlar a passada..
O ritmo já não baixa dos 5 min/km
Os troços de empedrado de paralelos são um perfeito martírio devido à instabilidade provocada na colocação irregular dos pés..
Qualquer passada com mais um milímetro que o normal
provoca-me uma cãibra horrível!
Cerro os dentes e começo a fazer contas de cabeça ao que
ainda falta.
Vou pensando em equivalências aos treinos que faço em Leiria:
Seis quilómetros?! -É só como ir do IMTT ao estádio e voltar! Não custa nada!
Cinco quilómetros?! -É só como ir de X até Y !
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A cerca de 2 km do final (Foto de maraton-photos.com) |
A distância custa a passar mesmo assim. Tenho diversas paragens forçadas
para desfazer as cãibras que teimam em continuar a aparecer! Tento nunca ficar mais de 10
segundos parado. Não vim até aqui para desistir, ainda para mais a dois ou três quilómetros da
meta…
Sou ultrapassado por muita gente, mas também ultrapasso
outros tantos que ainda vão pior do que eu…
Vêem-se atletas a ser assistidos pelos bombeiros. O problema
comum são as cãibras…
Por fim avista-se a rotunda que dá para a Avenida da
Boavista e o ânimo aumenta!
Já cheira a Maratona!
Mais mil e poucos metros, que se fazem levantando os pés apenas
e unicamente o necessário para não arrastar as solas no chão.
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A chegar à meta (Foto de maraton-photos.com) |
Uma curva à esquerda para entrar no Parque da Cidade e,..já
está…!!
Cruzo a linha da Meta três horas, vinte e dois minutos e
onze segundos após ter começado!
Está feita a Maratona do Porto de 2013!!
P.S.
Umas notas de estatística…
Terminaram 2775 atletas, um recorde absoluto de Finishers de
Maratona em Portugal, dos quais cerca de 300 são senhoras.
Os primeiros 10 países em termos de número de participantes são os
seguintes,
Os recordes de participação são devido sobretudo à democratização da
Maratona, tendo-se a curva de Gauss deslocado para a direita (tempos maiores ),
como se vê na comparação entre as classificações de 2004(vermelha) e 2013 (azul)desta prova.
Em termos pessoais, pode-se dizer que “entrei a matar e saí
a morrer” como se constata no gráfico de tempos por quilómetro.
Não hipotecando a hipótese de voltar ao assunto mais tarde,
quero deixar algumas considerações e pensamentos que me ocorrem
·
A minha maratona dividiu-se em duas partes bem
distintas; a primeira até aos 33km, foi excelente, conseguindo manter um bom
ritmo, sem sinais de cansaço ou qualquer outro problema. A segunda parte, a
partir dos 33km, foi feita com muito custo devido a cãibras na parte anterior
das coxas.
·
Não julgo ter sido o que se chama “O Muro”
porque não atingi um estado de exaustão energética, desidratação, etc.,
·
Geri bem a ingestão de líquidos e de géis, não
pecando por defeito nem por excesso.
·
O meu treino é, isso sim, claramente insuficiente para
ambicionar melhores tempos; mesmo o que foi alcançado nesta maratona já fica num
nível acima daquilo que os típicos 200km por mês podem eventualmente garantir.
Soluções possíveis: Treinar mais; fazer séries; seguir
um plano de treinos; tirar 10 anos à idade; pagar a um Personal Trainer; pagar uma
mensalidade de ginásio; fazer Core (nem sei o que isso é…); Pilates; yoga; sapatilhas
XPTO, etc.,
Conclusão: À excepção do “Treinar mais”, que posso
eventualmente equacionar, não me revejo em qualquer das outras hipóteses,
portanto…3h21m11s é o melhor que se pode arranjar J
(E agora se me permitem um conselho, desliguem o computador e vão mas é treinar…J)
Boas corridas!