A serra da Lousã é de facto, do que conheço, o melhor lugar
para corridas de Trail.
A vegetação abundante, as inúmeras correntes de água,
cascatas, ribeiras e tudo o resto, constituem o habitat ideal para os amantes
da natureza e, em especial, para os corredores de trilhos.
Nesta altura outonal, há muitas zonas de vegetação com
aquelas cores douradas que mais parecem ter sido tiradas de um postal do estado
americano do Maine.
Apesar de ter participado há bem pouco tempo no Lousã Trail,
não pude deixar fugir mais uma oportunidade de ir “trailar” para aquele paraíso
da modalidade.
Uma comparação obrigatória entre as duas provas passa logo
pelo nome das mesmas, uma é a pura Serra da Lousã, enquanto a outra já se chama
AX Trail, sendo que o “X” corresponde ao mineral Xisto, mais propriamente na
forma primária de calhaus.
Assim, temos no AX Trail, uma parte de beleza tipo Maine in the fall season e o resto do
percurso por carreiros de calhaus soltos onde, suspeito que, até as cabras e os
javalis evitam passar.
Quanto à corrida propriamente dita, iniciou-se com um atraso
de quase meia hora devido aos atletas retardatários que à boa maneira
portuguesa chegaram em cima da hora, bem como, por culpa do sistema de
cronometragem e controlo que obrigava a que cada atleta passasse
individualmente pelo levantamento do dorsal, para colocar uma pulseira com chip
electrónico e posteriormente, pelo “controlo zero” para activação do dito chip.
Como ferroviário de profissão detesto por princípio chegar atrasado! Vou para
estas coisas sempre com algum tempo, e com cerca de uma hora de antecedência,
dá para fazer tudo nas calmas. Para correr bem basta a seguir à partida.
Paulo Amaro, 41º lugar, 05h54m46s |
O tempo em Castanheira de Pêra, a base desta prova, estava
chuvoso, com temperatura relativamente amena, originando aquela sensação de ar
pesado menos adequado “para a prática desportiva”.
Paulo Oliveira, 125º lugar, 7h01m04s |
A parte inicial do percurso era relativamente fácil,
permitindo o alongamento do pelotão e, fazendo logo a triagem das posições
consoante as pernas de cada um.
Aos 3,5km começa então a primeira verdadeira subida, em
apenas 2 km subimos de uma cota de 650m até aos 1070m.
Durante a subida não se tinha a noção do seu fim devido a um
manto de nevoeiro que cobria o monte. Psicologicamente até nem é mau! Nunca
sabemos quanto é que falta para o fim do suplício!
Atingindo o cume do monte, percorre-se cerca de 3 km por
estradões até uma antiga casa da guarda-florestal, onde se iniciava a descida.
Algures anda na primeira metade da prova (fonte: FB) |
A descida iniciava-se em zona de floresta frondosa, inclinação
imprópria para humanos, a tracção diminuta ou nula. As escorregadelas e quedas entre o pelotão eram
muitas, por sorte "nunca me bateram à porta". O que ainda valia era a natureza do solo, constituído por terra fofa,
com uma boa camada de folhagem para amortecer as quedas.
Vejo o atleta que segue à minha frente, cair com toda a
força de rabo no chão por culpa exclusiva dos bastões que levava, ou melhor, da
inabilidade do dono dos mesmos!
De facto a utilização de bastões carece de
alguma aprendizagem, e nestas provas vêem-se situações inacreditáveis. Há
pessoal que não tem a menor ideia de como utilizar aqueles apetrechos. E quem
vai próximo de um artista destes, terá de estar em constante alerta,
quando não, leva com um bastão nos pés ou na cara! Nesta corrida tive um
encontro imediato com uma coisa destas, de que falarei mais à frente.
Bom, a corrida lá continuava por caminhos, carreiros,
levadas de água, por vezes rampas de ficar sem fôlego, outras ocasiões passando
à beira de precipícios em que não seria recomendável cair, etc….
A certa altura encontramos pessoal conhecido que
participavam no UTAX e, refira-se que, o aspecto de alguns já não era muito
fresco. Na altura íamos nós com 17 km e eles tinham cerca de 60 km.
Um flash ficou-me na retina, dois desses “locos que corren”
no UTAX, um deles com uma das mãos toda enfaixada com ligaduras, branco como a
cal da parede, subindo os degraus da
entrada de uma aldeia, descansando quase degrau a degrau, com o colega a
dizer-lhe: “ó pá, não estás em condições de continuar, vamos ficar neste
abastecimento! Vê lá isso…”, mas a resposta era um olhar vago, entre o alucinado
e o obstinado, subindo mais um degrau da escadaria que levava ao centro do
lugar e onde estava um dos abastecimentos.
Falando dos abastecimentos haverá que dizer que não serão o cartão-de-visita
do evento. Em primeiro lugar pela sua localização uma vez que se encontravam
instalados em pequenas casas das aldeias, minúsculas para tamanha afluência de
gente, em segundo lugar, pela variedade espartana da ementa!
Ora, sabendo que as provas de trail não serão propriamente
bodas de casamento, já tenho participado em corridas de organização
perfeitamente amadora onde até custa deixar os abastecimentos e retornar à
corrida.
Por fim, com sete horas nas pernas, chego finalmente à recta
da meta!
Preparo um sorriso para a fotografia e para receber os
aplausos de alguns transeuntes que por ali vagueavam, provavelmente familiares
de atletas ainda em prova, quando de repente, pelo canto do olho vejo uma
sombra em aceleração à minha direita!
Ainda pensei ser alguém da organização que, por algum motivo
ia a correr ao meu lado, mas logo percebi que era outro atleta a forçar um
sprint para me ultrapassar em cima da linha de chegada!
Ora bem, isto não é assim… ao fim de sete horas temos o amor-próprio
bastante sensível…
Por instinto, começo também a sprintar, tropeço em algo e
vou uns metros em desequilíbrio sempre em aceleração até cortar a meta.
Sprint final para a meta |
Não sei quem cruzou a meta em primeiro lugar, embora na
classificação apareça eu à frente.
Logo de seguida cumprimentamo-nos a rir e quando lhe digo
que quase ia caindo por ter tropeçado em algo, ele diz-me que foi em dos seus
bastões.
De facto, vejo que a minha meia esquerda tem um rasgão,
provocado com certeza por esse contacto.
O que é extraordinário é que ia-mos em sprint lado a lado,
ele à minha direita, e ele foi-me atingir com o bastão na perna esquerda!
Por isso é que, embora reconheça algumas virtudes no uso dos
bastões, o saber usá-los é fundamental!
Balanço final positivo. Foi também uma das provas de maior
dureza em que participei até à data.
A serra da Lousã continua no meu Top para provas
de trail, e talvez por essa razão irei provavelmente meter-me noutra aventura para aquelas
bandas, lá para finais de Janeiro J
A “Equipa” esteve bem representada pelo Paulo Amaro que
concluiu a prova em 05:54:46, obtendo o 41º lugar da geral.
Eu fui mais devagar “para apreciar a paisagem” J, demorando 07:01:04 e
ficando em 125º lugar.
Muito bom, parabéns por mais um "passeio a apreciar as vistas" :), e já agora bons Trilhos dos Abutres (esta ano não vou para aquelas bandas).
ResponderExcluirAbraço e vamos lá ver se nos vemos domingo no meio da confusão ;)
Belo passeio de 7 horas!
ExcluirAté Domingo no Porto! Um abraço
Aquela zona é, de facto, muito bonita. Fiquei fã!
ResponderExcluirAhaha essas disputas de honra finais... somos mesmo todos iguais. :)
Parabéns pela prova e por teres ganho o despique. ;)
Bjs
Adoro a Serra da Lousã! Estas disputas (da meta) são resquícios de instintos que vêm dos tempos das cavernas, reconheço :) O ter ficado à frente dele na tabela terá que ver com ordenação alfabética, uma vez que temos exatamente o mesmo tempo. Azar! Para a próxima inscreva-se com o nome verdadeiro :) (brincadeira)
ExcluirBjs
Boa prova! Em sete horas não tiveste grandes hipóteses de apreciar a paisagem eheh Então e conseguiste inscrição nos Abutres? Eu lá consegui, há uma da manhã!! Espero que o Porto tenha corrido bem!
ResponderExcluirEntão vemo-nos nos Abutres, pelo menos na partida :)
ResponderExcluirNo Porto correu bem, 3h23m33s, sem qualquer problema físico! Abraço