sexta-feira, 31 de outubro de 2014

AX Trail - K42


A serra da Lousã é de facto, do que conheço, o melhor lugar para corridas de Trail.

A vegetação abundante, as inúmeras correntes de água, cascatas, ribeiras e tudo o resto, constituem o habitat ideal para os amantes da natureza e, em especial, para os corredores de trilhos.

Nesta altura outonal, há muitas zonas de vegetação com aquelas cores douradas que mais parecem ter sido tiradas de um postal do estado americano do Maine.

Apesar de ter participado há bem pouco tempo no Lousã Trail, não pude deixar fugir mais uma oportunidade de ir “trailar” para aquele paraíso da modalidade.

Uma comparação obrigatória entre as duas provas passa logo pelo nome das mesmas, uma é a pura Serra da Lousã, enquanto a outra já se chama AX Trail, sendo que o “X” corresponde ao mineral Xisto, mais propriamente na forma primária de calhaus.

Assim, temos no AX Trail, uma parte de beleza tipo Maine in the fall season e o resto do percurso por carreiros de calhaus soltos onde, suspeito que, até as cabras e os javalis evitam passar.

Quanto à corrida propriamente dita, iniciou-se com um atraso de quase meia hora devido aos atletas retardatários que à boa maneira portuguesa chegaram em cima da hora, bem como, por culpa do sistema de cronometragem e controlo que obrigava a que cada atleta passasse individualmente pelo levantamento do dorsal, para colocar uma pulseira com chip electrónico e posteriormente, pelo “controlo zero” para activação do dito chip. Como ferroviário de profissão detesto por princípio chegar atrasado! Vou para estas coisas sempre com algum tempo, e com cerca de uma hora de antecedência, dá para fazer tudo nas calmas. Para correr bem basta a seguir à partida.

Paulo Amaro, 41º lugar, 05h54m46s

O tempo em Castanheira de Pêra, a base desta prova, estava chuvoso, com temperatura relativamente amena, originando aquela sensação de ar pesado menos adequado  para a prática desportiva”.

Paulo Oliveira, 125º lugar, 7h01m04s
A parte inicial do percurso era relativamente fácil, permitindo o alongamento do pelotão e, fazendo logo a triagem das posições consoante as pernas de cada um.

Aos 3,5km começa então a primeira verdadeira subida, em apenas 2 km subimos de uma cota de 650m até aos 1070m.

Durante a subida não se tinha a noção do seu fim devido a um manto de nevoeiro que cobria o monte. Psicologicamente até nem é mau! Nunca sabemos quanto é que falta para o fim do suplício!

Atingindo o cume do monte, percorre-se cerca de 3 km por estradões até uma antiga casa da guarda-florestal, onde se iniciava a descida.

Algures anda na primeira metade da prova (fonte: FB)
A descida iniciava-se em zona de floresta frondosa, inclinação imprópria para humanos, a tracção diminuta ou nula. As escorregadelas e quedas entre o pelotão eram muitas, por sorte "nunca me bateram à porta". O que ainda valia era a natureza do solo, constituído por terra fofa, com uma boa camada de folhagem para amortecer as quedas.

Vejo o atleta que segue à minha frente, cair com toda a força de rabo no chão por culpa exclusiva dos bastões que levava, ou melhor, da inabilidade do dono dos mesmos!
De facto a utilização de bastões carece de alguma aprendizagem, e nestas provas vêem-se situações inacreditáveis. Há pessoal que não tem a menor ideia de como utilizar aqueles apetrechos. E quem vai próximo de um artista destes, terá de estar em constante alerta, quando não, leva com um bastão nos pés ou na cara! Nesta corrida tive um encontro imediato com uma coisa destas, de que falarei mais à frente.

Bom, a corrida lá continuava por caminhos, carreiros, levadas de água, por vezes rampas de ficar sem fôlego, outras ocasiões passando à beira de precipícios em que não seria recomendável cair, etc….

A certa altura encontramos pessoal conhecido que participavam no UTAX e, refira-se que, o aspecto de alguns já não era muito fresco. Na altura íamos nós com 17 km e eles tinham cerca de 60 km.

Um flash ficou-me na retina, dois desses “locos que corren” no UTAX, um deles com uma das mãos toda enfaixada com ligaduras, branco como a cal da parede, subindo os  degraus da entrada de uma aldeia, descansando quase degrau a degrau, com o colega a dizer-lhe: “ó pá, não estás em condições de continuar, vamos ficar neste abastecimento! Vê lá isso…”, mas a resposta era um olhar vago, entre o alucinado e o obstinado, subindo mais um degrau da escadaria que levava ao centro do lugar e onde estava um dos abastecimentos.

Falando dos abastecimentos haverá que dizer que não serão o cartão-de-visita do evento. Em primeiro lugar pela sua localização uma vez que se encontravam instalados em pequenas casas das aldeias, minúsculas para tamanha afluência de gente, em segundo lugar, pela variedade espartana da ementa!

Ora, sabendo que as provas de trail não serão propriamente bodas de casamento, já tenho participado em corridas de organização perfeitamente amadora onde até custa deixar os abastecimentos e retornar à corrida.

Por fim, com sete horas nas pernas, chego finalmente à recta da meta!

Preparo um sorriso para a fotografia e para receber os aplausos de alguns transeuntes que por ali vagueavam, provavelmente familiares de atletas ainda em prova, quando de repente, pelo canto do olho vejo uma sombra em aceleração à minha direita!

Ainda pensei ser alguém da organização que, por algum motivo ia a correr ao meu lado, mas logo percebi que era outro atleta a forçar um sprint para me ultrapassar em cima da linha de chegada!

Ora bem, isto não é assim… ao fim de sete horas temos o amor-próprio bastante sensível…

Por instinto, começo também a sprintar, tropeço em algo e vou uns metros em desequilíbrio sempre em aceleração até cortar a meta.


Sprint final para a meta
Não sei quem cruzou a meta em primeiro lugar, embora na classificação apareça eu à frente.

Logo de seguida cumprimentamo-nos a rir e quando lhe digo que quase ia caindo por ter tropeçado em algo, ele diz-me que foi em dos seus bastões.

De facto, vejo que a minha meia esquerda tem um rasgão, provocado com certeza por esse contacto.

O que é extraordinário é que ia-mos em sprint lado a lado, ele à minha direita, e ele foi-me atingir com o bastão na perna esquerda!

Por isso é que, embora reconheça algumas virtudes no uso dos bastões, o saber usá-los é fundamental!

Balanço final positivo. Foi também uma das provas de maior dureza em que participei até à data.

A serra da Lousã continua no meu Top para provas de trail, e talvez por essa razão irei provavelmente meter-me noutra aventura para aquelas bandas, lá para finais de Janeiro J
A “Equipa” esteve bem representada pelo Paulo Amaro que concluiu a prova em 05:54:46, obtendo o 41º lugar da geral.
Eu fui mais devagar “para apreciar a paisagem” J, demorando 07:01:04 e ficando em 125º lugar.
 
 Fiquem bem e até breve!


Algumas fotos de locais por onde passou a prova. Fotos obtidas no Google Earth
Aldeia da Serra da Lousã (fonte: Google Earth)

Aldeia da Serra da Lousã (fonte: Google Earth)

Aldeia da Serra da Lousã (fonte: Google Earth)

Castelo da Lousã
 

6 comentários:

  1. Muito bom, parabéns por mais um "passeio a apreciar as vistas" :), e já agora bons Trilhos dos Abutres (esta ano não vou para aquelas bandas).
    Abraço e vamos lá ver se nos vemos domingo no meio da confusão ;)

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  2. Aquela zona é, de facto, muito bonita. Fiquei fã!
    Ahaha essas disputas de honra finais... somos mesmo todos iguais. :)
    Parabéns pela prova e por teres ganho o despique. ;)
    Bjs

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    1. Adoro a Serra da Lousã! Estas disputas (da meta) são resquícios de instintos que vêm dos tempos das cavernas, reconheço :) O ter ficado à frente dele na tabela terá que ver com ordenação alfabética, uma vez que temos exatamente o mesmo tempo. Azar! Para a próxima inscreva-se com o nome verdadeiro :) (brincadeira)
      Bjs

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  3. Boa prova! Em sete horas não tiveste grandes hipóteses de apreciar a paisagem eheh Então e conseguiste inscrição nos Abutres? Eu lá consegui, há uma da manhã!! Espero que o Porto tenha corrido bem!

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  4. Então vemo-nos nos Abutres, pelo menos na partida :)
    No Porto correu bem, 3h23m33s, sem qualquer problema físico! Abraço

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