És tu e o trilho, diziam
eles…
Passados seis
meses apenas de ter corrido o Trail Serra da Lousã, voltei para a edição de 2016.
Esta antecipação de datas
tem que ver com o campeonato do mundo de trail, que este ano, se realiza na
altura tradicional dos eventos AX Trail da Serra da Lousã.
Pouco há a acrescentar ao
que disse em outubro passado, estando tudo muito bem organizado, revelando o
alto profissionalismo já habitual no AX Trail.
Também gostava de referir
que não vale a pena lamentar não ter vaga disponível para ir à outra prova
mítica que se corre naquelas bandas por alturas de janeiro, visto que este
Trail Serra da Lousã foi nas duas últimas edições tão bom ou melhor do que o
outro da concorrência (opinião pessoal).
Tal facto deve-se a que
em 2015 e 2016 a base de operações foi em Miranda do Corvo, partilhando por
isso, quase obrigatoriamente muitos trilhos abútricos.
Nas edições seguintes, os
centros de operações serão outras localidades da Serra da Lousã, p.ex., Góis,
Castanheira de Pera e Lousã (informação não confirmada).
O percurso anunciado na
página da organização era semelhante, ou mesmo igual, ao da edição de outubro,
pelo que estava confiante de que iria ser um belo passeio.
Todavia, não consegui
carregar o percurso no Garmin 310XT coisa que aliás, nunca consegui fazer neste
relógio, ao contrário do velho Garmin 305, e que poderia ter feito toda a
diferença no decorrer da prova! Já lá vamos.
Assim iniciou-se a prova,
ameaçando chuva, sendo quase certo que não nos escaparíamos a uma ou outra
carga de água.
Passado pouco tempo
estávamos já em trilhos “abútricos” subindo e descendo montes, por vales de
ribeiras, atravessando aldeias serranas deslumbrantes como Gondramaz até chegar à cidade da Lousã.
Após o abastecimento na
Lousã, novamente num hotel da cidade, retornámos novamente aos trilhos de serra, sempre
a subir, serra acima…
Os tempos de passagem
pelos controlos estavam a ser semelhantes aos da edição anterior, pelo que
estava perfeitamente confortável no meio da tabela. Quando assim é, tenho a
perfeita noção de que não dá para ir mais rápido mas também não haverá
surpresas, a não ser em caso de alguma queda, ou coisa que o valha...
Por volta do quilómetro
32,seguia com um atleta do UTAX, um pouco mais à frente ia uma atleta dos 50K
que nos tinha ultrapassado pouco antes. Aproximava-se a subida mais íngreme ao
topo do monte.Curiosamente começámos a descer a “toda a brida”…
Comecei a estranhar o
facto de nunca mais aparecerem as subidas anunciadas. Parei várias vezes para conferir o
gráfico de altimetria impresso no dorsal. Não havia dúvidas, ou tinha havido
alguma alteração ao percurso, o que não seria a primeira vez, ou íamos
enganados!
Entretanto a atleta que
seguia à frente já se tinha distanciado para fora do alcance da vista.
O colega dos 110K
afirmava com alguma lógica que estava tudo bem porque haviam fitas à vista.
Todavia, continuávamos a descer quando deveríamos estar a subir…
Entretanto o colega dos
110K começou a ficar para trás e continuei sozinho a descer a toda a
velocidade.
Passado algum tempo
já estava convencido de que ia enganado.
Nas zonas de lama e terra
mole, as pegadas visíveis eram no sentido contrário…
Já tinha feito cerca de
40 minutos a descer, pelo que a prova já tinha ido pró maneta. Só queria chegar
a uma aldeia ou qualquer local que servisse de referência para me orientar!
A certa altura surge em
sentido contrário a tal atleta que ia à minha frente, confirmando que de facto,
estávamos perdidos!
Toca a subir novamente,
tentando ligar à organização para pedir ajuda.
O contacto foi difícil visto não haver cobertura de rede, mas por fim lá conseguimos chegar ao contacto com
um elemento da organização.
É "giro" estarmos perdidos
numa montanha a tentar explicar pelo telefone onde estamos!
Entretanto lá se percebe
onde estamos e dizem-nos que anda um Jeep da organização ali perto.
Passados uns minutos
chega o “Discovery” ao local onde nos encontramos.
Perguntam-nos se queremos
que nos levem ao percurso correto para retomar a prova, ou se queremos
desistir a fim de nos levarem a Miranda do Corvo.
Eu já estava genuinamente
farto de toda a situação, bastante desmoralizado, e disse que desistia. Todavia a colega insistiu para retomarmos a
prova, até porque ainda havia umas 4 ou 5 dezenas de atletas para trás e mais,
faria inclusivamente o resto da prova comigo para eu não desanimar ainda mais!
Ok - Concordei. Vamos lá!
O pessoal da organização leva-nos então ao
caminho certo e continuamos a prova.
De facto ainda havia
muita gente para trás.
Cedo porém comecei a constatar que a
colega estava muito melhor do que eu, e insisti para ir à sua vida, e ela lá foi!
O resto da prova, cerca
de 20 quilómetros, correu-se sem novidade, tendo a neura de ter andado perdido
dissipado após poucos quilómetros.
Já no final, nos
passadiços de madeira à entrada em Miranda do Corvo, volto a enganar-me no caminho
e ainda vou cerca de uma centena de metros enganado.
Agora, era o cansaço a afetar os sentidos!
Voilá! Ao fim de 9h43m
chego à meta, farto de trilhos até à ponta dos cabelos!
O colega e estrela da
equipa, Paulo Amaro, já lá estava há umas horas, tendo sido 16º da Geral e 5º
de escalão! Acho que temos de lhe aumentar o ordenado!
Paulo Amaro, 16º da Geral |
Mais tarde em casa,
descarrego a atividade do relógio e analiso no mapa para perceber onde me
perdi.
Não há dúvidas que foi ao
quilómetro 33, num local onde o percurso passa muito próximo de outra parte
onde tínhamos passado ao quilómetro 16, e por distração, tomei um caminho
errado tendo entrado nessa zona do K16 em sentido inverso!
Resultado, cerca de 7
quilómetros fora do percurso e quase 57 quilómetros no total.
Boa! Sou Ultra Runner!(e Ultra cabeça-no-ar)
Fiquem bem e boas
corridas!
Gondramaz |
"És tu e o trilho", diziam eles... E uma bússola também... passei por estas bandeirinhas três vezes, uma bem e duas perdido... |
Entrada no Talasnal |
Foto "Sportsonfire" |
Foto "Prozis" |
Xiii... Um engano no percurso, nem que sejam "apenas" 200 metros já é desmotivante, imagino assim tantos kms!!
ResponderExcluirAo contrário do que sempre pensei, que seria mais fácil perdermo-nos quando vamos com companhia, porque vamos na conversa, ao menos sempre são pelo menos 2 pessoas a olhar para as fitas. Quando vamos sozinhos não podemos desviar a atenção um segundo que seja, torna-se mais cansativo. Tive alguns momentos de pequeno-pânico durante a prova por causa disso.
Mesmo assim, parabéns por teres terminado depois de já teres "desistido" mentalmente. Apesar de tudo, é uma prova espectacular.
Bjs
Bem... já é a segunda vez que me perco ( a 1a foi nos Moinhos de Penacova em 2014) mas sempre em grupo. Quando vamos sozinhos a atenção é maior e é mais difícil acontecer.
ExcluirFiquei bastante aborrecido na altura mas passou logo. Afinal as minhas expectativas são cada vez mais, chegar ao final bem disposto, tirar umas fotos minimamente bem conseguidas e, divertir-me☺
Já vi na classificação que também fizeste uma boa prova. Parabéns! Bjs