terça-feira, 5 de novembro de 2013

Maratona do Porto 2013


Porto, Cidade Invicta, capital do Norte, gente com personalidade muito vincada.
Cidade que teve este domingo a sua 10º edição da Maratona.
 


Esta prova tem-se vindo a afirmar no calendário das maratonas europeias, atraindo sobretudo muitos “hermanos” de Espanha e de França.
Pode-se dizer que o Porto tem um encanto muito especial, diferente de Lisboa por exemplo. É uma opinião pessoal, bem entendido. Acho que a paisagem do Porto tem um ar mais familiar e acolhedor, com um toque antigo, uma envolvência de vistas entalhadas no rio Douro, algo que nos faz sentir em casa…, por assim dizer…

Confesso que conheço muito mal o Porto, apesar de ser natural do distrito de Aveiro, a vida trouxe-me sempre mais para sul. Com excepção de uma passagem de quatro anos pela Covilhã, fui passando por Coimbra, Figueira da Foz, Lisboa e agora Leiria!
 Talvez fosse, era melhor, comprar uma tenda de campismo J

Apesar de tudo, desde que comecei a ter preferências clubísticas, foi mais com o Porto  que simpatizei, nunca sendo todavia muito atento ao fenómeno do futebol…
Bom, retomando o assunto principal da maratona, pode-se dizer que não fiz uma preparação muito planeada. Ando nisto das corridas há muito pouco tempo e, não me apetece encarar o assunto como uma responsabilidade ou até como um assunto sério. A corrida veio como que ocupar o lugar da bicicleta de há três anos para cá. Não porque goste mais de correr do que de pedalar, mas porque tem uma logística muito mais simples, porque é uma moda que anda no ar, porque dá um prazer mais imediato, ???, ou se calhar por nada disto! Não sei.

Sei, isso sim, é que gosto de correr…(bem que podia aprender, eh eh..) 
Porto, visto de Gaia (Foto de arquivo)
A Operação “10ª Maratona do Porto” começou no sábado com a deslocação ao Porto para levantar os dorsais.

Havia a intenção de ir a tempo da Pasta Party, mas por motivos familiares não pude sair da Figueira da Foz antes das 16h00. Depois fui encontrar-me com o “atleta” Paulo Amaro na portagem da Mealhada para então seguirmos para o Porto. Conclusão, chegámos ao edifício da Alfandega, a base de operações da maratona, cerca das 18h00, tarde demais portanto, para a Pasta…
 
O atleta Paulo Amaro à entrada da Expo Maratona (Tempo: 3h14m54s )
Uma nota para o estado horrível do tempo neste sábado. Já estávamos a pôr as barbas de molho para a eventualidade de ter de correr a maratona debaixo de chuva e vento. Estranhava-se também que as previsões apontassem bom tempo para domingo e, regresso à chuva na segunda! Era bom demais!

No secretariado o atendimento foi excelente. Se tínhamos dúvidas relativamente aos aspectos logísticos da prova, as explicações não podiam ter sido melhores. Em cima de um mapa de bolso foi explicado e desenhado todo o percurso da prova, pontos-chave para a orientação dos atletas, etc.

Por termos falhado a Pasta Party, resolvemos ir ao “Nuorte Shopping” ver as ementas, e optámos por um Wok to Walk (não havia Wok to Run J)

 O Grande Dia começou às cinco da manhã. Às cinco e meia estávamos a sair de Anadia rumo ao Porto. Como não conhecemos bem o Porto, mandava o bom senso  ir com tempo para procurar um local para estacionar, tomar café, apanharmos os autocarros que nos levariam até ao local da partida, etc.
Chegámos de facto bem cedo à zona do pavilhão Rosa Mota, onde seria a Partida.

O tempo estava excelente, céu limpo e temperatura relativamente fresca.

Com o aproximar da hora da partida, a multidão começou a aumentar, confirmando-se a excelente adesão que teve este evento. Recordo que não se tratava apenas da Maratona; havia também a Family Race, uma corrida de 16 km.

Início da corrida
Finalmente chegam as 9h00 e dá-se a partida. Só me apercebi quando a multidão à minha frente começou a mexer. Estava junto a uma coluna de som que debitava Decibéis como se não houvesse amanhã! Passei os últimos 10 minutos antes da partida com os dedos nos ouvidos!
Finalmente, íamos à conquista da “Inbicta”!

Uma primeira subida até à Rotunda da Boavista, o espaço entre atletas descomprimindo progressivamente, permitindo começar a entrar no ritmo normal de corrida.

Percurso da Maratona
 E depois, ..a imensa Avenida da Boavista!
Vários quilómetros a descer até ao Castelo do Queijo.

Bom, na zona do Estádio do Bessa inflectimos à direita, dando uma volta a um quarteirão, retornando à Avenida passado pouco.
Confesso que conheço tão mal o Porto que posso afirmar sem grande margem de erro que, nunca tinha passado a pé por nenhum ponto do percurso da Maratona. Já teria porventura passado de carro em alguns desses locais…
Paulo Amaro, 1º  classificado do "PelaEstradaFora" (Tempo: 3h14m54s )

Chegados ao Castelo do Queijo viramos à direita em direcção a Matosinhos. O ritmo é forte, a temperatura está fresca, o dia soalheiro, corre-se sem esforço de maior.
Tenho no entanto a consciência de que esta facilidade não vai durar sempre.

Chegamos ao primeiro retorno, no Porto de Leixões.
No regresso vejo que levo mais de um quilómetro de avanço relativamente ao “Balão” das 3h15! Bem bom! Mas sei que, mais tarde ou mais cedo, vou ter de abrandar…

Voltamos a passar na rotunda da Anémona (acho que é assim que se chama..) em direcção à Foz do Douro. 
No regresso de Matosinhos
À passagem da uma hora, “mando-lhe" com o primeiro gel.
Levava um Stock considerável de comida. Dois Géis de fruta, dois géis com cafeína, um cubo de marmelada, tudo  da Decathlon, uma barra de cereais vulgar e uma mão cheia de rebuçados de menta. Parecia eu que ia para um piquenique…
Entramos na margem norte do Douro. A paisagem é deslumbrante! Não tinha noção da beleza desta zona do Porto!
Vai-se avançando em direcção às pontes. O ritmo continua entre os 4m20 e os 4m30/km. Não há sinais de quebra ou de cansaço. Há que aproveitar enquanto dá! Sei que o final será penoso de qualquer modo, portanto não vale a pena ir-me a poupar…

Ribeira, passamos pelo mercado de rua, mas ninguém pára para comprar nada…
O próximo destino é Gaia, que alcançamos pela Ponte D. Luís. Daí seguimos pela margem sul do rio até à Afurada, onde será o segundo retorno.

Curioso, ou não, fui o tempo todo com temas do Rui Veloso no pensamento! Muitos dos locais por onde íamos passando já os conhecia das canções! Tinha oportunidade agora de saber exactamente onde ficavam!
Após o retorno da Afurada, reconheci vários atletas que iam ainda em sentido contrário . Muitos deles, figuras conhecidas dos Trails, todos reconhecidamente melhores do que eu!


Passagem na zona ribeirinha de Gaia
Uma vez mais, tenho a clara noção de que ia acima de um ritmo sensato… Que se dane! Se surgir o Muro, salto por cima…não posso é terminar a pensar que podia ter feito melhor…
Novamente a Ponte D. Luís. Após atravessar a ponte vira-se à direita, direcção nascente, onde havia o terceiro retorno.

Foi mais ou menos por esta zona, aos 30 km de prova, que comecei a ter os primeiros avisos do corpo. Se fosse um automóvel, tinha-me acendido uma luz no painel de instrumentos!
Começo finalmente a reduzir para os 5 min/km.

Aos 33 km(+/-) dá-me a primeira cãibra na parte anterior da coxa. Uma paragem para esticar um pouco,..  passa, …retomo a corrida devagarinho.
Sou ultrapassado pelo “Balão” das 3h15.

Tento controlar a passada..
O ritmo já não baixa dos 5 min/km

Os troços de empedrado de paralelos são um perfeito martírio devido à instabilidade provocada na colocação irregular dos pés..
Qualquer passada com mais um milímetro que o normal provoca-me uma cãibra horrível!

Cerro os dentes e começo a fazer contas de cabeça ao que ainda falta.
Vou pensando em equivalências aos treinos que faço em Leiria: Seis quilómetros?! -É só como ir do IMTT ao estádio e voltar! Não custa nada! Cinco quilómetros?! -É só como ir de X até  Y !


A cerca de 2 km do final (Foto de maraton-photos.com)
A distância custa a passar mesmo assim. Tenho diversas paragens forçadas para desfazer as cãibras que teimam em continuar a aparecer! Tento nunca ficar mais de 10 segundos parado. Não vim até aqui para desistir, ainda para mais a dois ou três quilómetros da meta…
Sou ultrapassado por muita gente, mas também ultrapasso outros tantos que ainda vão pior do que eu…

Vêem-se atletas a ser assistidos pelos bombeiros. O problema comum são as cãibras…
Por fim avista-se a rotunda que dá para a Avenida da Boavista e o ânimo aumenta!

Já cheira a Maratona!
Mais mil e poucos metros, que se fazem levantando os pés apenas e unicamente o necessário para não arrastar as solas no chão.


A chegar à meta (Foto de maraton-photos.com)
Uma curva à esquerda para entrar no Parque da Cidade e,..já está…!!
Cruzo a linha da Meta três horas, vinte e dois minutos e onze segundos após ter começado!

Está feita a Maratona do Porto de 2013!!

P.S.

Umas notas de estatística…
Terminaram 2775 atletas, um recorde absoluto de Finishers de Maratona em Portugal, dos quais cerca de 300 são senhoras.

Os primeiros 10 países em termos de número de participantes são os seguintes,

 

Os recordes de participação são devido sobretudo à democratização da Maratona, tendo-se a curva de Gauss deslocado para a direita (tempos maiores ), como se vê na comparação entre as classificações de 2004(vermelha) e 2013 (azul)desta prova.

Em termos pessoais, pode-se dizer que “entrei a matar e saí a morrer” como se constata no gráfico de tempos por quilómetro.

Não hipotecando a hipótese de voltar ao assunto mais tarde, quero deixar algumas considerações e pensamentos que me ocorrem

·         A minha maratona dividiu-se em duas partes bem distintas; a primeira até aos 33km, foi excelente, conseguindo manter um bom ritmo, sem sinais de cansaço ou qualquer outro problema. A segunda parte, a partir dos 33km, foi feita com muito custo devido a cãibras na parte anterior das coxas.

·         Não julgo ter sido o que se chama “O Muro” porque não atingi um estado de exaustão energética, desidratação, etc.,

·         Geri bem a ingestão de líquidos e de géis, não pecando por defeito nem por excesso.

·         O meu treino é, isso sim, claramente insuficiente para ambicionar melhores tempos; mesmo o que foi alcançado nesta maratona já fica num nível acima daquilo que os típicos 200km por mês podem eventualmente garantir.

Soluções possíveis: Treinar mais; fazer séries; seguir um plano de treinos; tirar 10 anos à idade; pagar a um Personal Trainer; pagar uma mensalidade de ginásio; fazer Core (nem sei o que isso é…); Pilates; yoga; sapatilhas XPTO, etc.,

Conclusão: À excepção do “Treinar mais”, que posso eventualmente equacionar, não me revejo em qualquer das outras hipóteses, portanto…3h21m11s é o melhor que se pode arranjar J

(E agora se me permitem um conselho, desliguem o computador e vão mas é treinar…J)
Boas corridas!

12 comentários:

  1. Apesar desses problemas, foi um grande tempo!

    E sim, a cidade do Porto é linda!

    Um abraço e parabéns!

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    1. Foi um tempo muito lisonjeiro de facto. Mesmo melhor do que o esperado! Obrigado!
      Um abraço

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  2. Se sem preparação consegues fazer um tempo desses, imagina se tivesses feito trabalho de "core"! ihih ;)
    Parabéns!
    (Engraçado, eu também, quando vou cansada, faço essa associação entre os kms que faltam na prova e os kms que percorro em treino: "5km é só uma volta habitual ao parque, tu consegues. 2km é da ponte à torre, tu consegues. Etc.") :)

    Bjs, boa recuperação!

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    1. Obrigado! Esses termos "core", "fartlek", etc., são muito interessantes, tenho de investigar mais sobre o assunto, pode ser que ainda consiga melhorar um pouco :)
      Quanto aos estratagemas mentais, de facto tudo serve quando estamos “nas lonas”!!
      Certo é que, nunca me custou tanto terminar uma corrida!
      Beijos e bons treinos!

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  3. Em grande a equipa do "Pela Estrada fora"....mais uma vez parabéns aos Paulos. Gostei do teu relato e acho a tua estratégia "suicida" :)....eu não chegaria ao fim se fizesse a primeira parte à essa velocidade. É engraçado como a maioria de nós tem os mesmos estratagemas para tentar enganar o corpo...hehehe. Tive pena de não te ter encontrado, fica para um trail qualquer...qual é o próximo? Eu vou ao UTAM e depois em Janeiro aos Abutres.
    Abraço

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  4. Por vezes tem de se usar a táctica do "vai ou racha"! Desta feita ia rachando, foi por uma unha negra!
    Próximas aventuras serão a meia da Nazaré já no próximo domingo e os Abutres em Janeiro. Pelo meio ainda não sei...
    Abraço

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  5. Gostei: "entrei a matar, saí a morrer"!... É esse o espírito! É para dar tudo, o que temos e o que não temos, sobretudo nos últimos quilómetros. Era o que faltava, numa maratona, desistir a 3 ou 4km do fim!
    Deixava de ser seguidora deste blogue!! :)))

    Muitos parabéns! Tempo fantástico!

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    1. É isso mesmo! Só temos uma Maratona do Porto por ano, por isso não podemos deitar tudo a perder com pormenores de Muros, cãibras ou outras modernices :)
      Beijos e bons treinos!

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  6. Ah então esse tempo é sem grandes treinos?!?....então nem quero imaginar se treinasses mais.
    Muitos parabéns! :)

    Eu acho que Lisboa tem um problema, as sucessivas organizações não têm sabido criar um percurso de 42 km que passe mesmo nos pontos mais turísticos e bonitos da cidade. E depois tem outro problema...é que alguns desses sítios ficam nas colinas...em pequenos bairros que para se passar por lá tem de se ir em fila indiana.
    Pelo que me parece a organização da maratona do Porto tem sabido fazer melhor isso e nota-se na afluência de atletas a esta prova. Acredito que seja mais bonita que a maratona de Lisboa. E por isso sou capaz de lá ir um dia experimentar :)

    Mais uma vez parabéns pela conquista!

    Beijinhos e boas corridas!

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    1. Obrigado, eh eh! O objectivo é apenas divertir-me um pouco. De qualquer modo já comecei tarde para grandes façanhas desportivas!
      Não posso comparar com a maratona de Lisboa no formato actual, uma vez que fiz apenas a de 2012 e gostei muito também. No Porto havia o factor novidade, visto conhecer muito mal a cidade. Assim, houve também o prazer da descoberta de novas paisagens, muito bonitas por sinal!
      Beijos e boas corridas!

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  7. Muitos parabéns pelo excelente tempo mesmo com todas aquelas contrariedades das caimbras.

    Deu para perceber que desfrutaste da Maratona e isso é o mais importante.

    Boa recuperação,

    Fernando

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