sábado, 9 de abril de 2016

Trail Serra da Lousã


És tu e o trilho, diziam eles…
Passados seis meses apenas de ter corrido o Trail Serra da Lousã, voltei para a edição de 2016.

Esta antecipação de datas tem que ver com o campeonato do mundo de trail, que este ano, se realiza na altura tradicional dos eventos AX Trail da Serra da Lousã.
Pouco há a acrescentar ao que disse em outubro passado, estando tudo muito bem organizado, revelando o alto profissionalismo já habitual no AX Trail.

Também gostava de referir que não vale a pena lamentar não ter vaga disponível para ir à outra prova mítica que se corre naquelas bandas por alturas de janeiro, visto que este Trail Serra da Lousã foi nas duas últimas edições tão bom ou melhor do que o outro da concorrência (opinião pessoal).
Tal facto deve-se a que em 2015 e 2016 a base de operações foi em Miranda do Corvo, partilhando por isso, quase obrigatoriamente muitos trilhos abútricos.

Nas edições seguintes, os centros de operações serão outras localidades da Serra da Lousã, p.ex., Góis, Castanheira de Pera e Lousã (informação não confirmada).
O percurso anunciado na página da organização era semelhante, ou mesmo igual, ao da edição de outubro, pelo que estava confiante de que iria ser um belo passeio.

Todavia, não consegui carregar o percurso no Garmin 310XT coisa que aliás, nunca consegui fazer neste relógio, ao contrário do velho Garmin 305, e que poderia ter feito toda a diferença no decorrer da prova! Já lá vamos.
Assim iniciou-se a prova, ameaçando chuva, sendo quase certo que não nos escaparíamos a uma ou outra carga de água.

Passado pouco tempo estávamos já em trilhos “abútricos” subindo e descendo montes, por vales de ribeiras, atravessando aldeias serranas deslumbrantes como Gondramaz  até chegar à cidade da Lousã.
Após o abastecimento na Lousã, novamente num hotel da cidade, retornámos novamente aos trilhos de serra, sempre a subir, serra acima…

Os tempos de passagem pelos controlos estavam a ser semelhantes aos da edição anterior, pelo que estava perfeitamente confortável no meio da tabela. Quando assim é, tenho a perfeita noção de que não dá para ir mais rápido mas também não haverá surpresas, a não ser em caso de alguma queda, ou coisa que o valha...
Por volta do quilómetro 32,seguia com um atleta do UTAX, um pouco mais à frente ia uma atleta dos 50K que nos tinha ultrapassado pouco antes. Aproximava-se a subida mais íngreme ao topo do monte.
Curiosamente começámos a descer a “toda a brida”…

Comecei a estranhar o facto de nunca mais aparecerem as subidas anunciadas. Parei várias vezes para conferir o gráfico de altimetria impresso no dorsal. Não havia dúvidas, ou tinha havido alguma alteração ao percurso, o que não seria a primeira vez, ou íamos enganados!
Entretanto a atleta que seguia à frente já se tinha distanciado para fora do alcance da vista.

O colega dos 110K afirmava com alguma lógica que estava tudo bem porque haviam fitas à vista. Todavia, continuávamos a descer quando deveríamos estar a subir…
Entretanto o colega dos 110K começou a ficar para trás e continuei sozinho a descer a toda a velocidade.

Passado algum tempo já estava convencido de que ia enganado.
Nas zonas de lama e terra mole, as pegadas visíveis eram no sentido contrário…

Já tinha feito cerca de 40 minutos a descer, pelo que a prova já tinha ido pró maneta. Só queria chegar a uma aldeia ou qualquer local que servisse de referência para me orientar!
A certa altura surge em sentido contrário a tal atleta que ia à minha frente, confirmando que de facto, estávamos perdidos!

Toca a subir novamente, tentando ligar à organização para pedir ajuda.
O contacto foi difícil visto não haver cobertura de rede, mas por fim lá conseguimos chegar ao contacto com um elemento da organização.

É "giro" estarmos perdidos numa montanha a tentar explicar pelo telefone onde estamos!
Entretanto lá se percebe onde estamos e dizem-nos que anda um Jeep da organização ali perto.

Passados uns minutos chega o “Discovery” ao local onde nos encontramos.
Perguntam-nos se queremos que nos levem ao percurso correto para retomar a prova, ou se queremos desistir a fim de nos levarem a Miranda do Corvo.

Eu já estava genuinamente farto de toda a situação, bastante desmoralizado, e disse que desistia. Todavia a colega insistiu para retomarmos a prova, até porque ainda havia umas 4 ou 5 dezenas de atletas para trás e mais, faria inclusivamente o resto da prova comigo para eu não desanimar ainda mais!
Ok - Concordei. Vamos lá!

O pessoal da organização leva-nos então ao caminho certo e continuamos a prova.
De facto ainda havia muita gente para  trás.

Cedo porém comecei a constatar que a colega estava muito melhor do que eu, e insisti para ir à sua vida, e ela lá foi!
O resto da prova, cerca de 20 quilómetros, correu-se sem novidade, tendo a neura de ter andado perdido dissipado após poucos quilómetros.

Já no final, nos passadiços de madeira à entrada em Miranda do Corvo, volto a enganar-me no caminho e ainda vou cerca de uma centena de metros enganado.
Agora, era o cansaço a afetar os sentidos!
Voilá! Ao fim de 9h43m chego à meta, farto de trilhos até à ponta dos cabelos!

O colega e estrela da equipa, Paulo Amaro, já lá estava há umas horas, tendo sido 16º da Geral e 5º de escalão! Acho que temos de lhe aumentar o ordenado!
Paulo Amaro, 16º da Geral
Mais tarde em casa, descarrego a atividade do relógio e analiso no mapa para perceber onde me perdi.
Não há dúvidas que foi ao quilómetro 33, num local onde o percurso passa muito próximo de outra parte onde tínhamos passado ao quilómetro 16, e por distração, tomei um caminho errado tendo entrado nessa zona do K16 em sentido inverso!

Resultado, cerca de 7 quilómetros fora do percurso e quase 57 quilómetros no total.
Boa! Sou Ultra Runner!
(e Ultra cabeça-no-ar)
Fiquem bem e boas corridas!





Gondramaz


"És tu e o trilho", diziam eles...
E uma bússola também... passei por estas bandeirinhas três vezes, uma bem e duas perdido...




Entrada no Talasnal






Foto "Sportsonfire"

Foto "Prozis"