domingo, 19 de abril de 2015

Ultra Abril


O mês de Abril começa a compor-se em termos de quilómetros corridos.

Depois de um Fevereiro com apenas 109 km e Março com 159, este mês já contabiliza 141, o que não é nada mau!.

Em princípio, não deverei participar em provas até ao Ultra Louzan Trail em Junho e, embora ainda falte algum tempo, há que treinar, porque, parece-me que não vai ser pera doce.

O Ultra Louzan Trail terá “apenas” 45 km mas com um desnível positivo de 3.500 m, o que se traduzirá na prova com mais subidas na minha ainda curta carreira de “Trailista”.

No último Ultra Piódão ficou bem claro que a forma física anda pelas ruas da amargura, e então, há que treinar mais!

Hoje surgiu oportunidade de fazer um treino mais demorado e pus em marcha um plano que já andava fisgado há algum tempo.

O plano era juntar percursos que costumo fazer habitualmente na zona de Leiria, sendo uma parte inspirada nos Trilhos Loucos da Reixida, outra parte por caminhos que conhecia do Btt e finalmente um excelente Track descoberto no GPSies que vai da nascente do Liz à Pia do Urso e S. Mamede, coincidindo em algumas partes com os Trilhos do Pastor.

Assim, de fones nos ouvidos, iniciei às 9h30, para estar de volta às 16h30, fazendo 6h10 de corrida efectiva.

O tempo pregou uma ou duas partidas, com umas chuvadas “jeitosas”, algum vento frio, sobretudo nas zonas mais altas onde as eólicas giravam a toda a velocidade.

Ao passar junto a uma dessas torres eólicas, subitamente, esta começou a fazer um barulho enorme que me deixou de cabelo todo eriçado! Parecia que aquela geringonça tinha entrado em auto destruição e ia  mesmo cair-me em cima!

Afinal foi falso alarme. Era apenas a parte superior (das pás) que estava a mudar de direcção. Ufa..

Mais uma vez, a partir dos vinte e poucos quilómetros, começo a quebrar fisicamente tal como acontecera no Piódão.

A parte do percurso entre o Reguengo do Fetal e a Pia do Urso foi feita à custa de um esforço imenso...

Doíam-me as pernas, as costas e, a dor ciática ia a dar sinais de vida, enfim, …, quando cheguei à Pia do Urso parei o relógio, fui beber água e atestar as garrafas.

Optei por levar um cinto com três garrafinhas em vez da mochila, uma vez que há pontos de água em três locais do percurso.

Quando retomo a marcha, em direcção a S. Mamede já só penso que tenho de ir a um café, para comer e beber qualquer coisa que não água. Tinha trazido apenas dois géis caseiros e um cubo de marmelada.

Só pensava numa cerveja bem fresca e num Mil-folhas, de preferência, daqueles de tamanho A3.

Chego finalmente a S. Mamede, paro novamente o relógio e vou procurar um café aberto (pois,.. , a maior parte dos cafés da terra estavam fechados, e parece que não era só por ser Sábado…).

Assim que entrei numa pastelaria, que aparentemente era a única aberta da terra; dirigi-me logo à montra dos bolos! "- Raios, não há Mil-folhas … - exclamei eu baixinho."

Tive de me conformar com uma Bola de Berlim de tamanho XL, muito boa por sinal. A acompanhar, uma bela de uma Super Bock, o melhor retemperador de corpo e espírito que poderia desejar naquela altura J

Para rematar toma-se um café e poem-se os pés ao caminho porque ainda faltam quase vinte quilómetros até ao final.

A partir deste “abastecimento” as coisas começaram a melhorar. O ânimo já era outro, e o perfil do terreno era agora tendencialmente plano ou descendente. Também já não chovia.

As dores de pernas e costas tinham passado quase por completo e, estava a entrar numa fase em que sentia que poderia correr para sempre àquele ritmo.

De facto, cheguei ao lugar de Fontes, onde se situa a nascente do rio Liz, com uma frescura incomparavelmente superior à que tinha a meio da jornada.

Tinham ficado para trás 47,93 km e um desnível positivo de 1.543 m.

Boa semana e boas corridas!
Estradão na Sra do Monte, Leiria.

Trilho do Buraco Roto, Reguengo do Fétal. Ponto de passagem da volta de hoje (Foto de arquivo)

Resumo do "Ultra"

sábado, 4 de abril de 2015

Ultra Trail do Piódão 2015


Sábado, 28 de Março, quatro da manhã, Leiria,.. , toca o despertador do telemóvel. Ainda a mão vai pelo ar para o calar quando, toca também o velhinho Casio, companheiro de há mais de vinte anos, com o seu besouro estridente que põe os cabelos em pé a uma múmia.

Este despertar a meio da noite não é para tomar nenhum remédio ou para qualquer outro caso de vida ou morte.

A razão é que, hoje é dia de Ultra Trail do Piódão!

De véspera tinha ficado tudo pronto para sair de casa no mais curto espaço de tempo.

O encontro com o colega de equipa estava marcado em Souselas, julgava eu, às 5h30.

Às 5h26 estava no local e ligo-lhe para saber onde andava. Responde surpreendido que tínhamos combinado às 6h00. Boa! Antes chegar cedo do que tarde.

Pouco depois das 7h00 chegávamos ao Piódão.

Do alto dos montes viam-se os vales com mantos de nevoeiro branco, numa atmosfera encantada de paz...     

Dorsais levantados, segue-se a habitual rotina destas ocasiões. Até às 9h00 é uma longa espera.

Dá-se a partida da prova dos 50K. Passado um quarto de hora partiriam também os atletas dos 23K.

Os primeiros cinco quilómetros correm-se em terreno fácil. Vou a divertir-me à grande. É mesmo bom correr em trilhos!

Dos cinco quilómetros aos dez é sempre a subir.

Um estradão em zig-zag que nos leva dos 600m aos 1200m com uma inclinação que dá para correr a trote.., devagarinho.

Nova descida até aos 850m e, como, o que geralmente se desce tem de se voltar a subir, vai-se novamente até ao cume de um monte atingindo uma cota de cerca de 1.400m, através de single tracks e estradões.

É definivamente a parte mais espectacular do percurso!

Um enorme estradão ladeado de torres eólicas aponta a Torre da Serra da Estrela, com a sua neve branca a brilhar.

Estamos no tecto do mundo.

Avista-se toda a orla costeira de um lado e o maciço central da Serra da Estrela do outro lado, bem como, outras serranias já do lado espanhol.
No monte vizinho vê-se a Torre, com alguns restos de neve

Vou a pensar na expressão “O país profundo”, usada por muita gente para designar o interior do país!

Inacreditável!

Não admira pois, o choque que têm quando se deparam pela primeira vez com tamanha grandiosidade!

Adiante!

A certa altura tenho de parar porque vou já há algum tempo com uma pedra no sapato.

Tinha tentado gerir a situação, tentando com o jeito das passadas fazer descair a dita pedra para uma zona que não incomodasse. Sem sucesso.

Enquanto estou parado a sacudir as sapatilhas chega um atleta perguntando se necessito de alguma coisa.

Coincidência, é o Rui Soeiro, o “dono” do excelente espaço  Só mais um blog de corrida”!

Retomamos a corrida juntos, mas cedo fica evidente que o Rui vai de Ferrari e eu sinto-se como um Dois Cavalos com carvão nas válvulas.

Assim, ele vai andando, e eu, para disfarçar, faço uma paragem para tirar fotografias J

A certa altura começo a sentir as pernas pesadas. Recordo-me de pensar que ainda nem a meio da prova estava!

O ritmo baixa de forma natural.

Os bastões, que estou a usar pela primeira vez, são de uma utilidade preciosa.

O resultado de dois meses de volume baixo de treino está à vista.

Por outro lado esta prova era enganadora uma vez que, tendo muitos estradões com um grau de inclinação ligeiramente abaixo do limiar das forças, e portanto corríveis, iria provocar ao fim de algumas horas o esvaziamento das reservas energéticas de forma implacável.

No início dos “trinta” surgem as primeiras cãibras. Já fazia contas à vida…

Com o avançar da distância, os problemas começavam a ser mais persistentes e, eram claramente motivados pelo esforço das subidas. Nas raras ocasiões em que o terreno aplanava ou descia ligeiramente, ficava-se melhor.

Recordo-me de uma longa descida com um declive impróprio para cardíacos, em que os bastões foram novamente muito úteis!

Finalmente, após o penúltimo abastecimento começa a fase  final descendente.

Nesta altura já seguia em modo “Eco”. Tinha como único objectivo chegar ao fim sem mais cãibras.

Felizmente, não voltaram a atacar, mas em troca, tinha de manter um ritmo bem modesto, não dando para aproveitar o estradão de seis ou sete quilómetros que levava até ao último abastecimento.
 No último abastecimento convenço-me finalmente que os 50 km anunciados vão ter um bónus de mais 2. O relógio marcava 48,5 km e ainda faltavam mais 3 até à meta no INATEL.

Finalmente, após 9h12m, com o GPS marcando 52,06 km, corto a linha da meta.

O colega de equipa, Paulo Amaro está à espera. Tinha feito a mesma distância em 7h18m e, obviamente já tinha tomado banho, jantado, apreciado as vistas, lido os Lusíadas, etc.

O Paulo Amaro ficou em 21º lugar da geral e 3º de escalão! Salvou mais uma vez a honra da equipa!

Numa análise a frio tenta-se perceber as causas de um rendimento menos bem conseguido nesta prova.

·         Volume insuficiente de treino nos últimos dois meses;

·         Algum entusiasmo inicial, subindo os estradões a correr, originando um esgotamento precoce das reservas energéticas;

·         Alimentação insuficiente nos abastecimentos. Estes variaram de muito bom em alguns, a sofrível noutros. Todavia, a deficiente gestão de alimentos foi culpa própria, uma vez que até levava mantimentos que chegaram intactos à meta.

·         A hidratação também não foi bem gerida. Apesar de nunca ter faltado a água, esta não terá sido em quantidade suficiente para o esforço despendido e para a temperatura que já se fazia sentir;

·         O facto de ter apenas quatro horas de sono na noite anterior não ajuda nada para uma corrida de cinquenta quilómetros e quase três mil metros desnível positivo;

·         Se não tivesse levado bastões teria tido muita dificuldade em terminar ainda com luz do dia

Adiante!

O Trail do Piódão vale a pena, é uma excelente corrida, bem organizada e é numa zona única do país.

Valeu cada metro percorrido!

Aconselho vivamente, todavia, para a versão de 50 km convém dispor de um treino sólido de base, pois de outro modo paga-se a factura.
Classificação da "Equipa" do PelaEstradaFora:
Paulo Amaro - 21º Geral, 3º M45, 7h18m
Paulo Oliveira - 135º Geral, 23º M45, 9h12m
Terminaram 226 atletas.
Boas corridas e até à próxima!
Foto de Abel Simões













Foto:Desporto INATEL

Foto:Desporto INATEL

Foto:Desporto INATEL

Foto:Desporto INATEL