terça-feira, 4 de julho de 2017

Ultra Maratona Atlântica Melides – Tróia

Setúbal, Domingo 25 de Junho, 4:40 da madrugada, toca o despertador, dando início à epopeia que nos levaria às areias de Melides e Tróia.
Com as “tralhas” arrumadas de véspera, lava-se a cara com água fria, penteia-se o cabelo com um pouco de gel para assentar e, ruma-se ao cais dos catamarans, que nos levarão à península de Tróia.
Estou nesta aventura com o colega de equipa Paulo Amaro e no catamaran encontramos o colega Armando Cruz que também vai correr a Ultra Maratona Atlântica.
Na verdade, é este colega o “culpado” de estarmos ali àquelas impróprias horas!
Tudo começou numa manhã de Maio em que, como habitualmente, fui tomar um cafezinho ao refeitório da empresa onde trabalhamos. Na conversa de ocasião própria destas pausas, diz-me que estão abertas as inscrições para a Ultra Maratona Atlântica, Melides Tróia, e que até era giro voltar a fazê-la, uma vez que já a tinha feito há 27 anos, tinha gostado, blá blá blá, etc. e tal…
No final do café vai cada um à sua vida e aparentemente seria mais uma conversa de ocasião sem consequências "graves".
Mais tarde, à hora de almoço, só por curiosidade, passo pela página da prova ver o regulamento, espreito o Booking.com a ver a oferta hoteleira em Setúbal naquela data, preços, etc., tudo muito casual…
Mais para o final da tarde telefono ao Paulo Amaro, tipo a comentar que a prova é engraçada, embora por outro lado, tem uma logística complicada, alguma despesa associada...
Tinha a secreta esperança de ouvir uma resposta do tipo  “– Esquece isso, há outras provas por aí, etc. e tal…
Mas não! A resposta foi logo  “– Bora lá, vamos nessa!”.  E assim, ao final do dia já estava a ligar ao Armando a dizer-lhe: “- Já me inscrevi, a culpa é tua, agora portanto, vê lá se vais também!”
Assim, pelas 5:45 da madrugada estão estes “Três homens num bote” a caminho de Tróia, onde apanham um autocarro até à praia de Melides onde teria início a corrida!
Os três mosqueteiros na Praia de Melides
A Ultra Maratona Atlântica, Melides Tróia, tem o seu início portanto na praia de Melides, dirigindo-se para norte, sempre à beira-mar, terminando na Praia do Bico das Lulas em Tróia.
A prova é feita em regime de auto suficiência, com excepção de um litro de água dado a cada atleta ao km 14,5 na Praia do Pinheiro da Cruz e ao km 28,5 na Praia da Comporta. Tudo o resto, cada um leva o que quer, não podendo somente haver assistência externa sob risco de desclassificação.
Momentos antes da partida
A prova é absolutamente plana, obviamente, todavia, correr em areia é bastante distinto de correr em estrada ou em trilhos. O próprio tipo de areia também faz muita diferença, uma vez que se esta for muito mole, que os pés enterram-se e o esforço físico exigido é enorme.
A parte inicial da corrida era a mais temida, devido ao tipo de areia, pouco compacta e perfil inclinado que obrigava a correr numa postura desconfortável.
Fase inicial da corrida
Passada essa fase, dizia o pessoal que já conhecia a prova de edições anteriores, era como correr em Tartan, uma vez que o tipo de areia era mais rijo e a superfície bastante mais plana.
De facto confirmou-se tudo, embora com a “zona inicial” a prolongar-se até cerca dos 14 km, depois, uma zona ligeiramente menos difícil até cerca dos 29 km, e finalmente, o tal Tartan quando já o desgaste era enorme.
Algures na primeira metade da corrida
Ainda assim foi melhor do que ter uma  “zona inicial” até final ☺
Ao longo da corrida era bem visível a panóplia de estratégias que cada um ia optando para tornar a tarefa menos difícil. Uns corriam mais junto à água, tentando tirar partido da maior dureza da areia nessa zona, outros seguiam nas pegadas dos da frente, talvez por nessas pegadas a areia estar já pré-compactada, outros como eu próprio tentavam seguir por areia lisa ainda não pisada, outros ainda, inexplicavelmente corriam pela zona alta da praia, onde a areia é completamente seca e solta.
Confesso que, ao longo das 4h53m que por lá andei, experimentei quase todas as estratégias possíveis e imaginárias, adaptando-me no entanto melhor à opção que atrás referi.

Paulo Amaro
 Mal ou bem, lá cheguei ao final, dentro de um tempo muito razoável, sem ter sofrido quebras ou qualquer outros contratempos, excepto por duas enormes bolhas de sangue em outros tantos dedos do pé direito que, provavelmente, me irão provocar a queda de (mais) uma unha!
Paulo Oliveira
Este tipo de corrida não é muito fértil em peripécias, ao contrário das corridas de trilhos, onde se pode apreciar uma enorme variedade de fauna e paisagem, pode tropeçar-se numa pedra e cair feio, nos trilhos podemo-nos ainda enganar numa encruzilhada e perdermo-nos completamente na montanha (experiência própria), etc., etc..
Armando Cruz
Num percurso junto à praia é praticamente impossível perdermo-nos. Na última ocasião em que tal aconteceu, os portugueses “descobriram” o caminho para a Índia!!!

Boas corridas


Ritmo da prova. Início lento e penoso, final mais fácil. (na maratona em estrada a curva do ritmo é ao contrário...)