Uma excelente prova,
muito competitiva, pertencente ao Circuito Nacional de Montanha da Federação
Portuguesa de Montanhismo e Escalada.
Já referi em anos anteriores que o conceito deste campeonato
é diferente do Trail, uma vez que praticamente todo o percurso é feito em
caminhos ou estradões, sendo a parte correspondente a carreiros e trilhos relativamente
pequena.
No aquecimento, com o Paulo Amaro e o nosso colega ferroviário José Leal (18º da geral, 4º de escalão) |
Há no entanto a lamentar a baixa adesão nesta edição de 2017;
classificaram-se no final apenas 93 atletas, na distância maior.
A explicação passa essencialmente por dois motivos:
1 - Alguma falta de glamour, comum às provas populares cujo
valor de inscrição é de apenas 7,50 € - A corrida, tanto de estrada como de
trail tem-se tornado numa feira de vaidades, servindo também de meio de
afirmação de bem-estar económico. Tenho reparado muitas vezes que alguns
atletas de trail têm equipamento de valor superior ao do meu primeiro
automóvel. Nem sempre ficam à minha frente na chegada à meta…
Praia do Reconquinho - Penacova |
2 - Há também outro aspeto, possivelmente
polémico até, que tem que ver com a “matéria prima” destas corridas populares,
contrapondo às grandes provas “rock’n’roll”, color runs, Provas de trail caras
associados a vedetas ou das provas famosas no estrangeiro.
Enquanto a maioria dos adeptos do
último grupo, em que me incluo, iniciou a prática da corrida há pouco tempo, 5
a 10 anos no máximo, os corredores populares do primeiro grupo, já andam nestas
andanças há muito tempo, por gosto genuíno e não por estar na moda. Depois, e
aqui é que acho que se nota a grande diferença, há uma tendência estrato-social
nas corridas populares, de maior simplicidade, não urbanas, de atletas mais
ligados a atividades profissionais físicas onde a vida não é um mar de rosas!
No mundo do trail já não é bem
assim; o pessoal aderiu há menos tempo, vem sobretudo de ambiente urbano, tem
educação média ou superior, e sobretudo, as gerações até 35 anos passaram a
infância e adolescência agarrado a computadores e consolas de jogos!
Uma comparação possível, embora
um pouco injusta, será a de dois miúdos que andam na mesma turma do karaté; o
primeiro, menino bem e abastado, após terminadas as aulas no colégio, vai para
a catequese no BMW da mamã que, no final, o leva até ao ginásio para a aula de
karaté; o segundo miúdo, vem de uma família problemática, de um bairro social,
fugiu da escola pública farto de “apanhar no focinho” (agora chamado bulling), tem de desenvencilhar-se,
defender-se e sobreviver a qualquer custo em casa e no bairro; na aula de
karaté apenas ganha alguma técnica para aquilo que a vida já lhe ensinou pelo
modo mais difícil!
Naturalmente se não houverem
outros fatores envolvidos, o miúdo pobre terá desde logo uma vantagem natural
relativamente ao menino rico!
Na corrida passa-se um pouco do
mesmo, daí muita malta do trail, color runs e outras que tais, fugirem a sete
pés das provas populares. Pode ter-se as melhores sapatilhas, o melhor relógio,
a melhor mochila, e depois numa corrida destas, um simplório qualquer com umas
Adipas ou umas Mike, dá-lhes um valente bigode.
Assim é mais prudente ir a provas
caras, onde a seleção é puramente económica, afastando então essa concorrência
indesejada.
Acresce ainda que, tem sempre
outro impacto colocar uma selfie nas redes sociais tirada numa prova cara e
longínqua, do que na corrida popular das festas da Bordaleja-de-Baixo onde
qualquer pé-rapado pode competir.
Bom com tudo isto, temo que esta corrida de Penacova tenda a
encolher ainda mais ou até mesmo a desaparecer; para ajudar à festa, notou-se
também a falta de apoio da câmara municipal da terra. Recordo que nos anos
anteriores a câmara oferecia um almoço, simples é certo, mas tinha também a
presença do vereador do desporto na entrega dos prémios, e nesta edição, já não
houve nem almoço nem a presença do vereador.
Quanto à prestação da equipa manteve-se no nível habitual,
tendo o atleta Paulo Amaro obtido o 26º lugar da geral e 6º do escalão
(representou o Sporting Clube de Espinho por convite de última hora por lesão
de um membro da equipa), e eu, Paulo Oliveira o 57º lugar da geral e 13º de
escalão.
Esperemos que em 2018 a Corrida dos Moinhos de Penacova
volte aos seus tempos áureos.
Boas corridas!