domingo, 10 de setembro de 2017

10ª Corrida dos Moinhos de Penacova

Uma excelente prova, muito competitiva, pertencente ao Circuito Nacional de Montanha da Federação Portuguesa de Montanhismo e Escalada.
Foi a 6ª participação consecutiva nesta prova.
Zona da partida e final
Já referi em anos anteriores que o conceito deste campeonato é diferente do Trail, uma vez que praticamente todo o percurso é feito em caminhos ou estradões, sendo a parte correspondente a carreiros e trilhos relativamente pequena.
No aquecimento, com o Paulo Amaro e o nosso colega ferroviário José Leal (18º da geral, 4º de escalão)
Há no entanto a lamentar a baixa adesão nesta edição de 2017; classificaram-se no final apenas 93 atletas, na distância maior.
A explicação passa essencialmente por dois motivos:
1 - Alguma falta de glamour, comum às provas populares cujo valor de inscrição é de apenas 7,50 € - A corrida, tanto de estrada como de trail tem-se tornado numa feira de vaidades, servindo também de meio de afirmação de bem-estar económico. Tenho reparado muitas vezes que alguns atletas de trail têm equipamento de valor superior ao do meu primeiro automóvel. Nem sempre ficam à minha frente na chegada à meta…
Praia do Reconquinho - Penacova
2 - Há também outro aspeto, possivelmente polémico até, que tem que ver com a “matéria prima” destas corridas populares, contrapondo às grandes provas “rock’n’roll”, color runs, Provas de trail caras associados a vedetas ou das provas famosas no estrangeiro.
Enquanto a maioria dos adeptos do último grupo, em que me incluo, iniciou a prática da corrida há pouco tempo, 5 a 10 anos no máximo, os corredores populares do primeiro grupo, já andam nestas andanças há muito tempo, por gosto genuíno e não por estar na moda. Depois, e aqui é que acho que se nota a grande diferença, há uma tendência estrato-social nas corridas populares, de maior simplicidade, não urbanas, de atletas mais ligados a atividades profissionais físicas onde a vida não é um mar de rosas!

No mundo do trail já não é bem assim; o pessoal aderiu há menos tempo, vem sobretudo de ambiente urbano, tem educação média ou superior, e sobretudo, as gerações até 35 anos passaram a infância e adolescência agarrado a computadores e consolas de jogos!
Uma comparação possível, embora um pouco injusta, será a de dois miúdos que andam na mesma turma do karaté; o primeiro, menino bem e abastado, após terminadas as aulas no colégio, vai para a catequese no BMW da mamã que, no final, o leva até ao ginásio para a aula de karaté; o segundo miúdo, vem de uma família problemática, de um bairro social, fugiu da escola pública farto de “apanhar no focinho” (agora chamado bulling), tem de desenvencilhar-se, defender-se e sobreviver a qualquer custo em casa e no bairro; na aula de karaté apenas ganha alguma técnica para aquilo que a vida já lhe ensinou pelo modo mais difícil!
Naturalmente se não houverem outros fatores envolvidos, o miúdo pobre terá desde logo uma vantagem natural relativamente ao menino rico!  
Na corrida passa-se um pouco do mesmo, daí muita malta do trail, color runs e outras que tais, fugirem a sete pés das provas populares. Pode ter-se as melhores sapatilhas, o melhor relógio, a melhor mochila, e depois numa corrida destas, um simplório qualquer com umas Adipas ou umas Mike, dá-lhes um valente bigode.
Assim é mais prudente ir a provas caras, onde a seleção é puramente económica, afastando então essa concorrência indesejada.
Acresce ainda que, tem sempre outro impacto colocar uma selfie nas redes sociais tirada numa prova cara e longínqua, do que na corrida popular das festas da Bordaleja-de-Baixo onde qualquer pé-rapado pode competir.

Bom com tudo isto, temo que esta corrida de Penacova tenda a encolher ainda mais ou até mesmo a desaparecer; para ajudar à festa, notou-se também a falta de apoio da câmara municipal da terra. Recordo que nos anos anteriores a câmara oferecia um almoço, simples é certo, mas tinha também a presença do vereador do desporto na entrega dos prémios, e nesta edição, já não houve nem almoço nem a presença do vereador.
Quanto à prestação da equipa manteve-se no nível habitual, tendo o atleta Paulo Amaro obtido o 26º lugar da geral e 6º do escalão (representou o Sporting Clube de Espinho por convite de última hora por lesão de um membro da equipa), e eu, Paulo Oliveira o 57º lugar da geral e 13º de escalão.
Esperemos que em 2018 a Corrida dos Moinhos de Penacova volte aos seus tempos áureos.

Boas corridas!

2 comentários:

  1. Acho que já falámos disto por aqui nos teus comentários, mas não concordo com a tua análise. Eu não decido as provas que faço pelo valor da inscrição, isso não faz sentido nenhum. Mas se me dizes que uma prova é "maioritariamente em estradão e caminhos" eu perco o interesse. É simples. Com uma oferta cada vez maior, tendo a escolher as que me parecem ter um percurso mais interessante, quero lá saber do status ou lá o que é... Nada contra as provas populares e baratas, muito pelo contrário. Se tiverem um bom percurso e uma boa organização (como quase sempre têm) contem comigo.

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  2. Oi Felipão! Acredito que não faças as tuas escolhas baseado nas modas ou para tirar selfies para as redes sociais, mas acredita também que, há muita gente que o faz! Compara apenas o nível de participação entre provas "do povo" e as provas da moda onde, apesar dos preços estratosféricos, o pessoal sujeita-se a ficar em listas de espera intermináveis. Quanto ao facto de o percurso desta prova ser predominantemente em estradões florestais, não a torna desagradável, muito pelo contrário. A prova desenrola-se quase sempre à sombra das árvores, o que é bem agradável. Diria mesmo que se algum dia participasses irias gostar!l
    Não quero tirar o lugar de Hater profissional a ninguém dando marretadas a todos os que tiram selfies no UTMB antes da prova (☺), mas acho que tem havido alguma "feira de vaidades" no mundo da corrida.
    Bom, e por último, se conseguir juntar dinheiro e reunir pontos para ir ao UTMB retiro tudo o que disse☺ Um abraço

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