quarta-feira, 30 de julho de 2014

1º Trilho de S. Tomé


Ferreira-a-Nova, freguesia do concelho da Figueira da Foz.
 
Largo da aldeia, amplo, arejado.

À volta do largo estão todas as "infra-estruturas" da freguesia, sede da junta, centro de saúde, piscinas, capela, lar da terceira idade, cemitério,...

A zona, para quem não conhece, é maioritariamente plana, fazendo a transição do Baixo Mondego para a Gândara, sendo esta última, uma vasta zona de solo arenoso que vai até Mira e Cantanhede.

Apesar da relativa planura local, há um grupo de entusiastas da corrida que se dá pelo nome de "Mountain Trails" e, foram estes que tiveram a bela ideia de organizar o I Trilho de S. Tomé.

 A simplicidade da prova conquistou os participantes. A simpatia dos organizadores que, em boa verdade, parecem ter contado com a colaboração de muita gente da terra, bem como, a dedicação com que trabalharam, produziu uma prova bem simpática, sem complicações logísticas, percurso bem marcado, paisagem agradável, etc.   

O percurso divulgado poderia induzir em erro quem não conhece a zona, uma vez que não apresentava um desnível significativo. Podia até haver, e houve por alguns, a leitura de que iria ser uma "quase-prova-de-estrada".

Não foi bem assim. Uma boa parte do percurso foi em caminhos de areia solta o que, dificulta o avanço e provoca um forte desgaste energético.

Estou mesmo em crer que este tipo de terreno é tão duro como a montanha; é certo que não envolve a "força bruta" que é necessária nas rampas de "4x4", mas o esforço continuado, devido ao enterrar dos pés na areia, leva ao esgotamento precoce das reservas de energia.  

A partida deu-se pelas cinco da tarde sob um sol escaldante. Os primeiros quilómetros todavia, correm-se em zonas de pinhal, sempre à sombra.

A única rampa digna desse nome surge aos sete quilómetros, mesmo assim com uma inclinação acessível para correr, pelo menos para os mais bem preparados; obviamente fi-la a caminhar J.

Segue-se então viagem pelos campos de arroz do Mondego, com o castelo de Montemor-o-Velho no horizonte.

Esta parte do percurso foi pelo interior da Quinta de Foja.

Esta quinta remonta à fundação da nacionalidade, tendo pertencido a ordens religiosas até ao século dezanove, altura em que foi adquirida pela família Pinto Bastos, a quem ainda pertence (fonte: Google).

Esta quinta deve ser das propriedades particulares com maior área cultivável e de pinhal, do litoral-centro do país.

As gerações mais antigas conhecem-na bem. Nas épocas de sementeira e colheita, era o Ganha-Pão de muita gente num raio de muitos quilómetros.

Cruzamos duas vezes o ramal ferroviário da Figueira da Foz à Pampilhosa, agora desactivado e deixado ao abandono. Algo de cortar a alma a um ferroviário que por lá passou inúmeras vezes em serviço e não só. Sinal dos tempos, em que o alcatrão passou a ser sinal de progresso, enquanto o transporte ferroviário ficou associado ao imaginário do Portugal de antigamente. Pelo menos na mentalidade "novo-riquista" que se instalou nos últimos 30 anos!

Na corrida, entretanto, tinha alcançado um ritmo estável e controlado que permitia ir ganhando posições, uma após outra.

O início não tinha sido brilhante, tendo feito o primeiro quilómetro bem atrás no pelotão.

É bem verdade que o aquecimento antes das provas é fundamental, mas não está fácil passá-lo à prática. Afinal, já estava tanto calor...

Por fim, algumas peripécias.

O atravessamento de uma zona pantanosa onde nos atolámos até aos joelhos, e depois, um engano no caminho, para não variar!

A organização tinha disponibilizado o Track da prova para quem estivesse interessado. Como não pesa, tinha-o carregado no relógio, não fosse o diabo tecê-las. Após sair do tal atoleiro vi que os atletas à minha frente viravam todos à direita enquanto o relógio me indicava o caminho correcto para a esquerda!

Fitas havia, em ambas as direcções. Resolvi ir atrás da matilha. Uns metros mais à frente paramos todos, ao constatar que tínhamos saído da rota. Seguimos um pouco pela estrada onde tínhamos ido dar, na esperança de voltar a encontrar fitas. Voltei a consultar o relógio e constatei que iríamos cruzar o caminho correcto um pouco mais adiante. Assim foi. De novo em pelotão, agora com cerca de dez atletas, continuamos em frente. Faltavam cerca de três quilómetros para o fim.

Ainda faltava um pequeno brinde, uma passagem pelo leito de uma ribeira durante uma centena de metros, para lavar as sapatilhas e refrescar os músculos!

Por fim a meta.

Ambiente de festa, até porque esta prova estava inserida nas festa da terra e a base de operações estava no centro do "arraial"( a banda que ia animar o baile da noite já fazia os testes de som à aparelhagem...)    

Apreciação final muito positiva.

Organização muito boa, o quem vem provar que não são necessários meios astronómicos e alta tecnologia para se alcançar bons resultados. Basta dedicação e um pouco de "savoir-faire" sendo que, a rapaziada que organizou esta prova é bem conhecedora do "trail" nacional e sabe bem o que faz.

 Terminaram 80 atletas.

Campeão masculino, Marco Marques do União de Tomar

Campeã feminina, Patrícia Carreira dos Offtel Runners

Classificação da "equipa" do PelaEstradaFora:

Paulo Oliveira: 2h 07m 22s, 15º da geral, 3º de escalão;

Paulo Amaro: 2h 12m 37s, 28º da geral, 8º de escalão

A "Equipa" presente na prova

Quinta de Foja
Quinta de Foja - Abastecimento aos 14 km

Quinta de Foja
Quinta de Foja - Paulo Amaro. Foto: Mountain Trails 
 
Quinta de Foja - Paulo Oliveira.  Foto: Mountain Trails

Quinta de Foja


Selfie "Twilight Zone"

Pinhal "Twilight Zone" (condensação na lente do telemóvel :) )








Paulo Amaro
 
Paulo Oliveira
 
Pódio do escalão M40 - 3º Lugal para a equipa do PelaEstradaFora

Troféus conquistados: uma taça de porcelana e um pacote de chá Lucia-lima


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Trail do Almonda 2014


O Trail do Almonda corre-se pela Serra de Aire, na zona de Torres Novas.
Este ano foi a sua 5ª edição, tornando-a numa das provas veteranas deste tipo (não contando com as chamadas corridas de montanha que vêm dos anos 80).

A base de operações do evento tem sido em lugares do concelho de Torres Novas, mais próximos do sopé da serra, tendo sido no lugar de Vale da Serra em 2012 e este ano, no centro escolar do lugar de Pedrogão.
Refiro apenas estes dois anos uma vez que foi nas respectivas edições que participei, juntamente com o Paulo Amaro.

Este ano a “Equipa” apresentou-se à  luta, reforçada com o Sam.

Concentração antes do início da corrida
O dia começou chuvoso. No período que antecedeu a partida, chovia mesmo a sério; estávamos a colocar “as barbas de molho” para a possibilidade de passar umas boas horas à chuva…

Partida, debaixo de chuva
Dá-se a partida debaixo de chuva.
Uma boa quantidade de atletas permanece no abrigo da escola até ao último momento. Alguns, apenas saem de lá, já após o "tiro" de partida! Talvez ainda sonhassem fazer a prova sem molhar "o pêlo"...,azar.., isso não iria mesmo ser possível...

Uma análise ao perfil de altimetria indicava que até aos 10 quilómetros, não haveria grandes dificuldades. A subida da montanha propriamente dita, começaria a partir dessa altura.

A "Matilha" seguia rápida pelos caminhos, trilhos e carreiros.

A chuva continuava a fazer companhia, todavia, era uma companheira ligeira, amistosa e até agradável!
A temperatura estava amena.

A certa altura entramos em carreiros estreitos e sinuosos, característicos do emparcelamento da zona.
Começam os condicionamentos típicos deste tipo de corridas, que, na linguagem "moderna" se chama Trail.

Paulo Amaro, 67º da Geral; 2h 56m 00s
Já não se corre no sentido estrito do termo. Cada passada tem de ser estudada com cuidado, quando não, há queda pela certa.
O cérebro vai processando informação a toda a velocidade.

A visão lê o terreno que tem pela frente, transmite ao cortex cerebral, este analisa, toma decisão acerca do melhor local onde aterrar o próximo pé, comunica ao sistema motor que operacionaliza as ordens recebidas.
Tudo isto faz lembrar um complexo sistema informatizado. Quem tiver um processador mais lento está tramado!

O meu processador vai sempre no vermelho, na tentativa de que toda informação flua por todo o circuito antes de tropeçar e cair partindo o nariz contra um penedo de calcário!
Tenho pensado muito acerca das diferenças entre a corrida em estrada e a corrida em trilhos. Por muito que prefira a natureza ao alcatrão, os resultados obtidos têm sido precisamente o oposto.

"Sam" Oliveira, 154º da Geral; 3h 35m 17s
 Por estranho que pareça, alcanço resultados em estrada, muito lisonjeiros até, para quem nunca correu antes dos 40 anos. No entanto, em trilhos, a proeza é, chegar ao fim com os ossos todos no sítio.
Nos trilhos, em certas alturas e, não obstante o que já aqui foi dito, vamos tendo tempo para pensar e até observar muitas coisas. Acontece quando se vai em fila indiana, sem possibilidade de ultrapassar e, por vezes , até de correr.

No Almonda há muito disso. Subidas intermináveis em "Single track" onde se vai literalmente com os olhos nos pés do atleta à nossa frente.
É quase normal identificar o artista da frente pelas sapatilhas e não pela cara e, muito menos, pelo nome.

A certa altura pensamos: - Olha-me outra vez o marmanjo das Trabuco lilazes!
Ou: - Pensava que este artolas das Raptor já se tinha ido embora!

Ou ainda, esta sim, situação real desta prova: - Este sacana das Asics ainda é pior que eu! Escorrega e tropeça em todas as pedras do caminho. Não tarda, dá um trambolhão que até faz faísca…
Bom, se o camarada caiu, não sei. Mas durante o tempo em que fui na pegada dele, cada metro era uma epopeia de escorregadelas, tropeções e afins!

Com estas e outras peripécias atinge-se o último cume da montanha e inicia-se a descida.

De novo com o sistema em alerta máximo, cada metro tem de passar pelo fluxograma de análise-processamento-decisão-acção, onde não pode haver lugar para falhas.
Por esta altura da corrida já tinha sido feita a selecção natural, espaçando os atletas ao longo do percurso, pelo que, decorriam longos períodos sem se ver ninguém.

No longo "single track" da descida do Vale Fojo, seguia sozinho tentando não cair, mas também, tentando na medida do possível manter a posição.
Ainda assim, por duas ou três vezes (ou mais, não sei...) fui ultrapassado por "cavalos de corrida" mais adaptados àquele tipo de perfil descendente.

Por fim, após o último abastecimento, apanha-se um estradão durante dois ou três quilómetros, tendencialmente a descer, que nos levou praticamente até à meta.

Paulo Oliveira, 126º da Geral: 3h 25m 15s
No final, um duche nas instalações da escola onde estava sedeada a prova e, um merecido repasto para quem optou por almoçar no local.

Pódio masculino
 
 
Pódio feminino
No campo das sugestões, apenas referir que pode haver alguma margem de evolução no que respeita às classificações, uma vez que parece ter havido uma enorme confusão neste aspecto.
 
E agora, como dizia o apresentador do TV Rural,
“Despeço-me com amizade!” e boas corridas
 (e boas férias se for o caso!)