sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ultra Louzan Trail 2015


Ou melhor, “Bruto" Louzan Trail 2015!


Foi neste 20 de Junho, mais um evento Louzan Trail.

Mas  primeiro, recuando um ano, dia 21 de Junho de 2014, cerca das 16h00 estava eu sentado no passeio junto ao carro, tentando descalçar as meias de compressão, tarefa que levou cerca de dez minutos! Sempre que efetuava uma tentativa para tirar as meias dava-me um ataque de cãibras desde as pernas até aos abdominais, obrigando-me a esticar de emergência. 
O carro estacionado ao lado era de outro atleta que também se estava tentando descalçar, passando pelas mesmas dificuldades.

Ríamo-nos do estado em que estávamos, dizíamos palavrões, rogávamos pragas à Serra da Lousã, mas no fundo, estávamos felizes pelos belos trilhos onde tínhamos andado cerca de cinco horas.
Eu pelo menos, estava ainda num estado de deslumbramento devido à prova recém concluída, e que ainda considero a melhor das melhores das que já fiz até hoje.

O estado “lastimoso” em que me encontrava no final era devido a 30,86km de prova com 2.013m de acumulado positivo.

Paulo Amaro, Samuel e Paulo Oliveira
Em 2014 tinha adorado esta prova; estava equilibrada em dureza e beleza, bem de acordo com a minha forma física.
Em 2015 a prova evoluiu.

De 33km passou a 45km, tendo ainda assim estes 45km um bónus de mais 6 ou 7km dependendo da precisão dos relógios. A minha “cebola” marcou 51,180km.
Na altimetria a evolução foi enorme, passou de 2.000m para 3.500m, um recorde para a minha “carreira” .

Ainda assim, quando nos inscrevemos para um “Ultra” temos de nos mentalizar que não “vamos ali, dar uma corridita e voltar”.
Também há outros “considerandos” a ter em conta. Meter 3.500m de acumulado positivo em 45 ou 50 km de distância não augura logo à partida muitas facilidades.

Depois, a própria data, 20 de Junho, véspera de Verão, Portugal, interior,… será de esperar tudo menos frio!
Por último, tendo feito a prova em 2014, tinha já uma noção de escala daquilo que tinha pela frente.

Será tudo isto para dizer que encarei a prova com o maior respeito, perfeitamente consciente de que ia ser duro, muito duro!
Quebrei também o meu recorde pessoal em uma prova, 10h36m!

Dificilmente se transcrevem as emoções vividas numa prova como esta, mas vou tentar!
Depois da fase inicial dentro da cidade da Lousã, entramos na Fábrica de papel do Prado, passando pelo seu interior diretamente para os trilhos de serra.

A primeira fase é feita ziguezagueando por um ribeiro, ora de um lado ora de outro.
Passado pouco tempo, passamos sem paragem pelo Castelo da Lousã.

Serra acima, sempre por zonas sombrias. Os óculos de sol fizeram a prova toda por cima da pala do boné!
Surgem os primeiros abastecimentos. Frugais, é certo, mas somos logo cativados pela simpatia e cumplicidade dos membros da organização ou dos voluntários que lá estavam de serviço.

Este ambiente de simpatia e cumplicidade foi em minha opinião um dos grandes trunfos desta prova. Foram simplesmente extraordinários!
Desde cedo no entanto, começaram a surgir os comentários de que havia problemas com a marcação do percurso; confirmado com a posição dos abastecimentos que surgiam 3 ou 4 quilómetros além do que estava anunciado.

Ok, tudo bem. Quem já tem alguma rodagem nestas andanças leva sempre um cubo de marmelada e um gel para uma emergência.
Na realidade chego ao final da prova com grande parte da comida que tinha levado, sinónimo de que os abastecimentos foram mais do que suficientes!

Quanto à diferença verificada na distância é em minha opinião um problema menor.
Aborrece-me mais este tipo de enganos em provas de estrada de distância tipificadas, nomeadamente em certas meias-maratonas em que cronicamente há erros grosseiros na medição do percurso.

Exigir uma medição rigorosa, num percurso de trail, super-sinuoso, por vezes debaixo de floresta densa, será pedir demais, e entendo eu, desenquadrado do espírito do trail.

No mundo das corridas há lugar para todos.
Para aqueles que querem apenas aderir à moda, tirar umas selfies, postar no facebook e sentir-se parte deste movimento, terão as color runs, urban trails, marginais à noite, etc.

Não desfazendo nas opções anteriores, que pessoalmente não descarto, reservando-me o direito se participar nelas “sempre que me der na real gana”, há sempre as provas “um pouco mais além”.
O Ultra Louzan Trail de 2015 foi uma destas provas!

Entrando em comparações, melhor compreensível para quem já participou em provas “lousanenses” pode dizer-se que o Ultra Louzan Trail de 2015 será:
·         Parecido com uns Abutres, com calor em vez de frio e, sem o risco de partir a cabeça a cada dez metros;

·         Relativamente ao AX-Trail, será uma versão XL, com uns toques de alpinismo para quebrar a monotonia;

·         Comparando com a mesma prova em 2014, houve claramente um “esticar de corda” que obrigará no futuro quem se inscreve, a ler com atenção as características da mesma. “Meter 3.500m” de desnível positivo em 50 km é como meter o Rossio na Rua da Betesga! Bem, não será impossível mas vai ser duro. Muito duro!

O calor realmente, é que saiu dos valores a que estamos habituados. Todavia, está na altura dele, não vale a pena pensar que estamos na Suécia ou na Noruega! 

As previsões meteorológicas davam 39 graus para a Lousã. Todos os participantes estavam cientes disso e ainda assim tomaram a opção pessoal de iniciar a prova!
Mas retomando a corrida, esta ia-se desenrolando por trilhos fantásticos, quase sempre à sombra, proporcionando uma sensação de frescura muito bem-vinda!

Passamos pela central hidroeléctrica, pelas aldeias do casal novo, Talasnal, Vaqueirinho e Catarredor.
Após 13 quilómetros atingimos o primeiro cume de encosta, a cerca de 1.000 metros de altitude.

Descemos então virados à aldeia do Candal, à cota de 600m.
Passado o Candal descemos ainda mais até à cota de 450m.

Entramos numa estrada de alcatrão onde se segue um quilómetro.

Quando deixamos a estrada de alcatrão, entramos numa cascata seca onde se vai treinar um pouco de escalada.
Os patamares de rocha são altos; há lodo e verdete, o que obriga a muita atenção.

Paro para estudar a situação. Os bastões que até agora tinham sido tão úteis, são agora um estorvo e um perigo. Equaciono prendê-los na presilha da mochila.
Hummm…, dá muito trabalho. É mais fácil atirá-los para o patamar seguinte e assim sucessivamente até ao cimo da cascata!

Passado pouco começa uma subida que ia levar ao marco geodésico da Ortiga, a 928m.             
 
A esta altitude já só há vegetação rasteira, a temperatura é mais baixa e há uma brisa agradável.
A subida deste monte é surreal.

Um caminho a pique. 

A meio da subida o caminho cruza com um estradão onde está um jipe e, estão dois atletas a ser assistidos. “Tiveram mais olhos que barriga” e estão a passar mal. Dizem-me que um deles  está a vomitar.
No topo desse monte está uma ambulância, de onde vêm dois bombeiros correndo, acudir à situação com a mala de primeiros socorros.

 
O ponto mais alto da Serra da Lousã, O Trevim, está mesmo ali à vista. Não devem ser mais de 3 km pelo estradão. Todavia, temos ainda de descer à Aldeia da Cerdeira, a 700m e subir tudo novamente para atingir o Trevim.
Nesta subida apanhamos a escalada mítica por onde já tínhamos passado em 2014 (e há duas semanas atrás J).


Escalada final antes do Trevim
É um troço em regime de semi-escalada, uma vez que não são necessários equipamentos especiais, no entanto está bem no limite do que se pode fazer sem eles.
Alcanço o Trevim aos 28,5km, com 6h15m.

Trevim, o ponto mais alto da Serra da Lousã - 1.200m
A partir deste ponto o percurso é tendencialmente descendente.
Ironicamente, a verdadeira prova está a começar para mim.

O cansaço acumulado bem como o calor provocam-me um desgaste enorme.
Entramos num trilho sinuoso por uma floresta “misteriosa”.

Há duas semanas atrás, quando viemos aqui treinar, desci este trilho como se não houvesse amanhã! Hoje vou a metade da velocidade tentando que o peso das pernas não me faça tropeçar em alguma pedra ou raiz.
Mais à frente entramos noutro trilho do mesmo género, já na vertente leste da serra.

Vou com o máximo cuidado porque sinto as pernas incapazes de movimentos bruscos originados por algum tropeção.
De nada vale! Às duas por três, tropeço e estatelo-me no chão.

Tenho sorte porque caio para a margem do trilho onde o tapete de caruma amortece a queda.
Levanto-me e sigo, agora com mais cuidado ainda. E também mais lento!

Entra-se então numa estrada de macadame que me fez lembrar outra, há uns tempos no Piódão.
Agora há condições para correr. Não há é forças!

É aqui que caio na real, de que vou “nas lonas”.
De dez em dez minutos tenho de caminhar um pouco, uma vez que a pulsação aumenta muito nesse intervalo de tempo.

Acaba finalmente o maldito estradão e começa uma subida íngreme no que me parece ser um corta-fogo.
Há outra coisa que me vem a preocupar nesta altura.

Tenho bebido água e isotónico que nem um desalmado e no entanto não estou a contribuir em nada para “regar” a floresta L
Nos restantes abastecimentos forço-me mesmo a beber sem vontade, mas continua tudo na mesma.

De facto, só após mais de uma hora de haver terminado a prova é que o sistema começa a funcionar. Já estava a ficar preocupado!
Foi esta a maior lição que trouxe desta prova.

Ainda estou para saber o que aconteceu aos muitos litros de água e isotónico que bebi durante as 10h36m que andei em prova!
Na zona de um abastecimento que tinha controlo de tempos sou alcançado por uma atleta que me acompanha até perto do final.

A companhia de alguém ajuda bastante. Eu vinha sozinho desde o Trevim, sem ninguém à vista, excepção claro, dos voluntários nos abastecimentos.

A companhia desta atleta, que vem claramente com maiores reservas de energia, traz um refrescamento anímico que é de vital importância para fazer os últimos quilómetros a correr, em vez de caminhar.
Chegamos finalmente à Lousã.

Agora com a companhia de outros dois atletas que entretanto alcanço.

Com a meta a pouco mais de um quilómetro o subconsciente diz-me repetidamente que a prova está feita e para fazer o resto a caminhar.

Nem pensar!

Os transeuntes da Lousã não hão-se olhar para mim com um ar pena daquele “tipo que já não consegue sequer correr”!

Inicio então um trote, mais ou menos vigoroso que só termina na linha de chegada.

Numa das ruas ainda recebo aplausos e incentivos de uma criança que está numa varanda!

Por fim, 10 horas e 36 minutos depois de ter iniciado, chego ao parque Carlos dos Reis e termino a prova.

O colega de equipa Paulo Amaro já lá está. Fez a prova em 8h 43m, obtendo o 19º lugar da geral e o 1º lugar do escalão.

O Samuel chegará também dentro de poucos minutos.

 A classificação que interessa:

RANK       NAME                                                      TEAM                       CAT                         RESULT

19  Paulo Samuel Jesus Amaro pelaestradafora Veterano M45 08:43:08 – 1º M45

47 Paulo Oliveira pelaestradafora Veterano M45 10:36:48 – 5º M45

58  Samuel Jorge de Oliveira individual Veterano M45 10:54:17 – 7º M45
Paulo Amaro - 1º M45

Conclusão:
Prova muito dura, agravado pelo calor que se fez sentir.

Paisagens únicas, trilhos do melhor que há para a prática de trail running.
Organização esteve bem de forma geral, havendo no entanto alguns aspetos a melhorar, nomeadamente na definição do percurso.

Em minha opinião, distâncias superiores à maratona neste tipo de perfil não serão aconselháveis. Se a isso juntarmos um calor de “pico de verão” começa mesmo a ser demasiado violento.
Avaliação pessoal ainda assim muito boa.

Obviamente voltarei em 2016!
Foto: facebook - Provas de Atletismo-Fotografias
 
 
 
 
 

Samuel no abastecimento do Castelo. Foto: facebook

Foto: facebook - Provas de Atletismo-Fotografias

Foto: facebook - Provas de Atletismo-Fotografias
 
Foto: facebook - Provas de Atletismo-Fotografias
 
 


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Assalto à Serra da Lousã - O Dia D


Sábado, 06 de Junho de 2015, 08h00, Lousã, perto da Fábrica de Papel do Prado.
O Castelo da Lousã
Os quatro cavaleiros do apocalipse, Paulo, Samuel, Paulo Amaro e Armando, reúnem-se para a duríssima missão de subir ao topo da serra e voltar, no mais curto espaço de tempo.

Os quatro aventureiros
 O percurso delineado é o do LouzanTrail de 2014.

O dia promete calor com fartura. As previsões apontam para 36 °C, embora pela manhã, ainda não se faz notar em demasia.
Assim, os quatro bravos partem à aventura, que vai durar uma boa parte do dia.


O local de início, que como disse , é perto da Fábrica de Papel do Prado, portanto mesmo na entrada da floresta.
Segue-se pela encosta de um pequeno vale junto a uma ribeira, para, passado cerca de um quilómetro tomar um trilho à esquerda, sempre a subir.

Ao virar para este trilho há a primeira situação de orientação (ou falta dela). Este local é um ponto comum ao retorno e o Track no relógio não indica qual deles tomar. Talvez até indique mas não sei bem como se faz.
Por via das dúvidas o Samuel tem um GPS de mão, daqueles com mapas tipo Carta Topográfica.



Em poucos minutos atingimos o Castelo da Lousã.


Continuamos a subir.
O registo será sempre o mesmo nas  horas seguintes.

Passamos pela aldeia da Cerdeira.
Casa na saída alta da Cerdeira
Estamos com algumas dúvidas acerca do nome da aldeia e perguntamos a uma família que estava almoçando no seu terraço.

A resposta vem com o maior orgulho que se possa imaginar: "- Meus senhores, aqui é a Cerdeira!"



A última escalada antes do Trevim
Ao fim de 12,5 km e 3 horas, chegamos sem dificuldade ao ponto mais alto da serra, chamado Trevim.




A descida, ou melhor, “o restante percurso, tendencialmente descendente” ainda vai dar que fazer.
Com o passar do dos quilómetros, o cansaço e o calor vão obrigando a baixar o ritmo.

Acabamos por demorar mais tempo na descida do que tínhamos demorado na subida.
A demora, no entanto, também é justificada pelas paragens em duas aldeias para hidratar com uma cerveja fresquinha.
Abastecimento na aldeia do Candal
Falando em aldeias da Serra da Lousã, vale a pena ir à serra só para visitar estas aldeias.

Aldeias como, Cerdeira Candal, Catarredor e Talasnal, são simplesmente encantadoras, estando algumas bem tratadas, com casas recuperadas, algumas das quais disponíveis para aluguer, ou turismo rural.
Quanto a pormenores técnicos, as indicações dos GPS foram boas, embora devido à densidade da floresta em alguns locais, a precisão da leitura diminuía. As causas podem estar relacionadas com o momento da gravação, que foi na minha prova do LouzanTrail em 2014, como no momento da leitura.
Mesmo assim, nos casos em que surgiam dúvidas, estas desvaneciam-se ao fim de 10 ou 20 metros.
 A distância final foi de 30 km, com 2.000 m de desnível positivo acumulado.