sexta-feira, 14 de abril de 2017

Trilhos das Quelhas

Confesso que estava um pouco apreensivo em relação a estes Trilhos das Quelhas.

Era a primeira edição, a zona era propícia a “invenções” mais arrojadas, e sobretudo, a organização através da sua página de Facebook bombardeava o slogan: “é que vai doer, ai vai, vai”!
A par disso, incluíam algumas imagens de imponentes penhascos do vale da Ribeira das Quelhas o que me deixava mais ainda “de pé atrás”.
A dureza da subida era no entanto garantida. A prova iniciava-se em Castanheira de Pera na encosta sul da Serra da Lousã, subindo até ao ponto mais alto da serra a 1.205 m chamado Castelo do Trevim, descendo depois para os lados da aldeia do Coentral e da famosa Ribeira das Quelhas.
A base das operações desta prova esteve instalada na Praia das Rocas, a tal que tem ondas artificiais e onde terminaram as corridas das duas distâncias, 27 km e 12 km bem como a caminhada.

A partida das corridas foi dada num local chamado Praia do Poço da Corga,
Praia Fluvial do Poço Corga

 uma praia fluvial muito aprazível um pouco acima da vila de Castanheira de Pera, para onde os atletas foram levados de autocarro.
Praia Fluvial do Poço Corga - Samuel e Paulo (Je)
Às 10h30 iniciou-se a prova dos 27 km, com 81 atletas (foi este número de chegados à meta, não sei se desistiu alguém…) com toda a gente a querer ser estrela dos primeiros 300 metros. Bem, nas fotos da partida há dois fulanos que deviam estar a dormir porque ficaram para trás seguidos apenas pelo “vassoura”, dois atletas da famosa equipa do PelaEstradaFora, que ainda assim recuperaram algumas posições terminando em 37º e 45º da geral.
Como diz o velho ditado “a pressa dá em vagares”, logo aos 500 m de prova o pelotão encarreira todo pelo caminho errado dando origem a uma enorme confusão.
Os mais prejudicados são os atletas da frente que de repente se encontram de novo atrás no pelotão. Têm agora de ultrapassar os mais lentos já em single track ou algo parecido.
Este engano terá sido talvez a única mancha desta prova, uma vez que as fitas indicativas do novo trilho não estavam muito visíveis. De facto, quando há mudanças de direção, as fitas sinalizadoras do novo trilho devem estar em local que os olhos dos corredores as encontrem de forma natural. A regra básica é colocar diversas fitas do lado exterior do caminho para onde se dá a mudança de direção. Neste caso as fitas estavam do lado interior desse entroncamento, motivando que para as ver os corredores teriam de olhar para trás, o que não faz sentido...
Outra solução é tão simples como desenhar no chão uma seta com farinha branca (de neve)!
Ultrapassado este transtorno, que em abono da verdade pouco me aborreceu (a disputa pelos últimos lugares não é tão renhida como pelos primeiros 😊), a corrida lá seguiu serra☺ acima, por trilhos muito giros, passando por locais como só a Serra da Lousã tem.
Passado algum tempo atingimos o Castelo do Trevim a 1.205 m de altitude, onde se fazia sentir um vento forte e frio.
As torres eólicas giravam a toda a velocidade, provando que o génio que se lembrou de as colocar no cimo dos montes não era parvo nenhum ☺.

A partir do castelo do Trevim, onde havia um abastecimento, a prova era tendencialmente a descer.
Por falar em abastecimentos, a organização desta prova esmerou-se e apresentou umas mesas exemplarmente compostas. Já vi melhor, é certo, mas esta prova ficou bem no pelotão da frente no capítulo dos “comes e bebes”.
Cerca do quilómetro 18 chegamos à zona que dá nome à prova, a encosta da Ribeira das Quelhas.
Era aqui que receava que surgissem invenções tipo “extreme” ou “Boot Camp”, coisas que agora estão na moda e servem para o pessoal que anda nos ginásios a trabalhar os bíceps, tatuagens e solário, terem os seus momentos de glória!
A passagem por esta zona exigiu de facto muito cuidado, uma vez que o trilho percorria uma encosta pedregosa muitíssimo íngreme ao longo de uns 600 metros.
 Estavam destacados para os pontos mais perigosos, elementos bombeiros e do Grupo de Intervenção Proteção e Socorro (GIPS)da GNR que davam algum apoio aos atletas.
De qualquer modo pareceu-me na altura que o efeito destes elementos era mais psicológico do que efetivo, uma vez que se um atleta escorregasse acabaria por derrubar também o suposto ajudante e acabariam por cair ambos pela ravina abaixo. Talvez a existência de cordas fixadas às rochas fosse uma solução mais eficaz, em minha opinião obviamente.
Passada esta zona de penhasco, entramos novamente em trilhos junto à ribeira e a certa altura dou o tralho que há algum tempo andava a ameaçar!
A(s) queda(s) deu-se numa passagem de rochas mesmo junto à água que, devido a essa proximidade estavam muitíssimo escorregadias. Quando me aproximava dessa passagem um veraneante que ali se encontrava com a família avisou-me logo.

- Cuidado, porque essas rochas estão muito escorregadias!

-Obrigado - respondi eu - Obrigaaaaaaa…(catrapuz)…dooo....

A lage inclinada onde tinha posto os pés tinha aderência zero e caí de costas instantaneamente, sem todavia me magoar.
Ainda no chão gracejo para o fulano que me tinha avisado.

- O meu caro amigo bem que me avisou! – disse enquanto me erguia.

Meto o pé, e de repente estou novamente no chão.
Desta vez caio meio de lado, novamente numa queda ultra rápida e desamparada que não dá tempo de qualquer reação ou de movimento defensivo!
Bem, levanto-me novamente, agora com muito cuidado e saio daquela lage enorme e escorregadia, meio curvado com as mão sempre próximas do chão, prontas para qualquer eventualidade.
Faltavam ainda cerca de 8 quilómetros que se fizeram sem grande história não sendo ultrapassado por ninguém e até passando dois ou três atletas que iam a caminhar com um ou outro problema. Pergunto se precisam de alguma coisa, mas está tudo bem, apenas algumas questões musculares ou coisa parecida (sei bem o que isso é…), pensei para com os meus botões o mesmo que penso quando vou naquelas situações: “treina que isso passa”!
Termino finalmente na Praia das Rocas com 4h18m de prova, cheio de apetite para o almoço incluído nos 15,00 € da inscrição!
Os outros dois PelaEstradaFora já tinham chegado, o Paulo Amaro com 3h43m em 20º lugar da geral, 2º de escalão,
Paulo Amaro - Provas de Atletismo - Fotografias

 e o Samuel com 4h08m e 37º da geral, 4º de escalão

Samuel - Provas de Atletismo - Fotografias
Resumindo, esta prova sendo uma primeira edição teve um nível excelente e não fosse aquele problema inicial onde todo o pelotão se perdeu daria com certeza nota máxima à organização.
O percurso foi muito bem escolhido, sendo equilibrado em termos de dureza, técnica e de corrida.
O lado sul da Serra da Lousã embora não tão espetacular como as encostas do lado de Miranda do Corvo ou da Lousã, permite esse equilíbrio que no lado norte não é tão fácil por ter uma orografia mais agreste.
A t-shirt técnica oferecida tem um layout muito bem conseguido e o troféu finisher é original e bonito.
A organização dos Trilhos das Quelhas está de parabéns! Ganharam o desafio e proporcionaram um dia muito bem passado aos atletas e caminheiros que foram até Castanheira de Pera!


Boa Páscoa e boas corridas!



"Je" - Provas de Atletismo - Fotografias

Sam

The Team











The Dalton Brothers

Paulo Amaro com mais um troféu para a coleção


2 comentários:

  1. Obrigado pelo artigo, sugestões de melhoria são sempre muito importantes.

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    1. Parabéns para os organizadores e colaboradores deste excelente evento! Alcançaram um nível excelente. Quero voltar na 2. edição!

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