sábado, 28 de setembro de 2019

Férias 2019 - Parte II



Castelo de Vide
A segunda etapa destas férias começou na zona raiana de Portalegre, mais concretamente em Marvão e Castelo de Vide.
A viagem desde Leiria até lá foi feita calmamente por estradas nacionais, com os vidros abertos, apreciando o ar quente e seco característico do interior.
O primeiro destino seria um parque de campismo perto de Castelo de Vide cujas coordenadas inseri no GPS do telemóvel; todavia a tecnologia não é muito fiável porque, quando escutei a mensagem “Chegou ao seu destino” estava no meio de nenhures, sem sinais de um parque de campismo ou de outra coisa qualquer.
A opção seguinte foi o Parque de Campismo de Marvão - Beirã, cujas coordenadas estavam corretas e bem sinalizado nas placas ao longo da estrada.
Marvão
Mais uma vez é um parque gerido por holandeses, um casal muito simpático! Pelo menos mais um ou dois parques da zona eram também propriedade de holandeses; facto curioso!
Este parque de Marvão é muito diferente do outro de Gouveia, onde tinha acampado na semana anterior. É propriedade desse casal de holandeses de  meia idade vindos diretamente dos tempos de Woodstock, que, ao lado do parque de campismo têm também uma pequena quinta com burros e cabras.
O parque tem boas condições em termos de higiene e instalações, mas é algo básico e rudimentar. Para mim está excelente, sem luxos mas com o básico garantido.
Depois de instalar a tenda, pesquiso na internet percursos na zona, dentro dos limites razoáveis para fazer em tempo de férias e vejo um que me chama a atenção. Trata-se de um percurso de cerca de 15 quilómetros chamado “Rota dos contrabandistas do café”.
Esta rota tem este nome devido aos caminhos usados antigamente para o contrabando através da fronteira com Espanha.
O percurso tem início na aldeia espanhola de La Fontañera, seguindo por caminhos dentro de Espanha e fazendo o retorno por terras portuguesas.

No dia seguinte pela manhã, “pego” no carro e vou até La Fontañera.
São cerca de 30 quilómetros de estrada uma vez que se dá uma volta considerável pelo posto fronteiriço e depois até à vila espanhola de Valencia de Alcantara.
Começo a correr às 11h40, já com um calor considerável, em economia de esforço desde início, para apreciar um pouco da paisagem e sobretudo para poupar água.
Não se vê vivalma, não se ouve “hablar” castelhano, veem-se apenas árvores e calhaus tal como do outro lado da fronteira.
Como nao podia deixar de ser, começam os contratempos!
Chego a um ponto em que o caminho entra numa propriedade privada.
Equaciono, escuto com atenção se há sinais de cães ou outro ruído, como não me parece haver qualquer perigo ou risco de ofensa grave à propriedade privada, contorno o portão e sigo pelo caminho fora.
Lá atravesso a propriedade e curiosamente, do lado oposto, não há qualquer portão!

Mais à frente, num local chamado Molino de la Negra, dou com mais um caminho fechado com o portão de uma quinta. Desta vez, do lado de lá, estão alguns cães ladrando alegremente antevendo já o sabor das minhas canelas.

Decido então que “afinal não era por ali que queria ir” 😃
Tenho de improvisar e tomar um caminho em sentido oposto ao que deveria seguir.
Chego também à conclusão de que não é possível efetuar o percurso que levo gravado no Garmin pelo facto de não haver passagem livre para a parte portuguesa. A fronteira nesta zona é desenhada pelo rio Sever, mas não consigo lá chegar porque todos os caminhos passam pelo interior de quintas privadas (com cães…).
Para compensar a decepção no entanto, vejo indicações de um dólmen nas proximidades  e sigo para lá.
O dolmén está num local chamado Tapada del Anta e é uma coisa imponente.
É curioso pensar o que se passaria na cabeça dos nossos antepassados para encavalitar rochedos de várias toneladas uns por cima de outros com objectivos pouco claros (funerários talvez...).
Termino este “passeio” com 13,7 km cheio de sede debaixo de um calor insuportável . Passo o resto do dia a beber água mas a sede não passa…
Após um mergulho na piscina do parque de campismo (na realidade é apenas uma daquelas piscinas de superfície tamanho XL) vou visitar Castelo de Vide que fica a cerca de 6 quilómetros do parque.






Castelo de Vide é daquelas terras que cativam de imediato os visitantes pela sua beleza natural, limpeza das ruas e boa organização geral.
A Judiaria de Castelo de Vide é um dos cartões de visita da vila e teve uma grande importância nos finais do século 15 quando os judeus foram expulsos de Espanha pelos reis católicos.
Muitas famílias judias vieram morar para esta zona, trazendo toda uma dinâmica resultante do saber fazer, visto serem mais avançados em ofícios como a tecelagem, ferreiros, tinturaria e atividades financeiras, apenas como exemplo.
O famoso médico, botânico e naturalista Garcia de Orta foi um desses filhos de Abraão, cujos pais fugiram de Espanha para Castelo de Vide.
Recomendo vivamente a visita à antiga sinagoga da vila, onde funciona agora um museu muito interessante!

Para o treino-passeio do segundo dia, encontro um percurso no Wikilocs com início e fim no parque de campismo, indo até ao castelo de Marvão, com cerca de 14 quilómetros no total, a distância ideal para um treino de férias!
O calor do dia anterior serviu-me de lição e levanto-me mais cedo para fazer a volta pela fresca.
Começo a correr antes das 8 horas, seguindo por caminhos murados de granito, iguais aos que tinha percorridos do lado espanhol no dia anterior.
Às páginas tantas dou com um rebanho de cabras no meio do caminho!
Estas vadias tinham escapado do terreno onde estavam a pastar, encontrando-se agora no tal caminho ladeado por muros de pedra onde eu ia a correr.
As pobres cabras assustadas, iam avançando fugindo de mim, afastando-se cada vez mais do seu terreno. Eu, por outro lado, estava sem saber o que fazer porque também não podia desviar-me delas e tinha de seguir em frente.
Por fim, após cerca de 800 metros lá apareceu uma zona sem muros e as cabras saíram do caminho e foram à sua vida!
O resto da subida até Marvão foi pacífica, tomando a certa altura um caminho romano que leva até às muralhas do castelo.
Há um aspeto que me fascinou nesta zona de Marvão e Castelo de Vide que é a calma, o silêncio e a sensação de tranquilidade que se respira. Os fins de tarde no parque de campismo eram de um sossego tal, olhando para um céu tão límpido e cheio de estrelas que mais parecia estar noutro planeta!
Quando regresso da volta ao Castelo de Marvão decido arrumar a trouxa e mudar de ares para sul. O destino será a cidade de Beja.
A viagem é novamente feita por estradas nacionais, com paragem em Portalegre para almoço e mais à frente outra paragem em Évora onde recordo as várias ocasiões que estive naquela cidade atuando com a tuna académica da Universidade da Beira Interior a que pertenci nos 4 anos que estudei naquele estabelecimento (se bem que as saídas com a Tuna nunca deixavam memórias muito nítidas… 😊)
Chegado a Beja instalo-me no parque de campismo municipal, mesmo no centro da cidade, junto ao estádio de futebol e das piscinas municipais.
No dia seguinte faço um périplo pela cidade, em passo de corrida, parando sempre que vejo uma boa foto para tirar, e assim, ao fim de pouco mais de 12 quilómetros sinto conhecer razoavelmente a cidade.
Em jeito de conclusão posso afirmar que fiquei fascinado por todos os locais por onde passei, a Serra da Estrela onde não ia há muitos anos, com a zona rural dos arredores de Gouveia, Folgosinho e Linhares da Beira, Castelo de Vide com a sua memória judaica, Marvão com as suas muralhas e posição imponente e finalmente Beja com as suas planícies deslumbrantes! 
Fica também mais certa a convicção de que temos no nosso país alguns paraísos esquecidos no interior, que têm excelentes acessibilidades e locais para ficar hospedado tão bons que é uma pena que muitos portugueses continuem a ir exclusivamente para o litoral e para o estrangeiro passar férias!
No que me toca, voltava já amanhã para lá!
Boas corridas!

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